Tesis
Etiologia, diversidade do agente causal e controle químico da antracnose da soja
Fecha
2015-03-06Registro en:
DIAS, Moab Diany. Etiologia, diversidade do agente causal e controle químico da antracnose da soja. 2014. xvii, 128 f., il. Tese (Doutorado em Fitopatologia)—Universidade de Brasília, Brasília, 2014.
Autor
Dias, Moab Diany
Institución
Resumen
A soja (Glycine max) é considerada a mais importante cultura do agronegócio brasileiro. Se consideradas as lavouras contíguas da Argentina, atualmente mais de 50% da produção mundial de soja é procedente da América do Sul. Dentre diversas doenças, tem aumentado a prevalência e a intensidade da antracnose, causada principalmente por Colletotrichum truncatum. Relatos de epidemias severas, com expressiva redução de produtividade, são frequentes, especialmente nos plantios da região Centro-Norte. Pouco se sabe sobre a variabilidade morfológica, cultural e molecular de C. truncatum e de outras espécies associadas à antracnose da soja no cone sul da América do Sul. Desta forma, as características morfo-moleculares de 54 isolados de C. truncatum provenientes de regiões produtoras de soja do Brasil e da Argentina foram investigadas. Estudos morfométricos e culturais de C. truncatum, assim como o uso de RAPD, confirmam a existência desta diversidade nos isolados de C. truncatum. Alguns isolados apresentaram três tipos de conidiogênese, incluindo a formação de conídios através de células conidiogênicas nas extremidades das hifas, em conidiomas no interior de esporodóquis setosos, através de setas férteis ,e forma inédita para a espécie C. truncatum. O sistema RAPD foi eficaz para detectar a diversidade genética dos isolados de C. truncatum provenientes da América do Sul e para estabelecer o grau de similaridade entre eles. Este foi maior dentro do grupo de isolados provenientes da Argentina e menor dentro do grupo de isolados do Brasil. Além disso, os resultados correlacionaram diferentes grupos com a respectiva origem geográfica, com agrupamentos exclusivos ou quase exclusivos de isolados das províncias argentinas e brasileiras em grupos distintos. Além disso, foi reportada e caracterizada a patogenicidade de Colletotrichum cliviae, espécie de conídios cilíndricos, à soja, em comparação com C. truncatum e outras espécies de Colletotrichum. Um isolado de C. clivae originário do Estado do Tocantins foi caracterizado morfologicamente e sua relação filogenética com C. truncatum e outras espécies foi estabelecida pelo sequenciamento parcial das regiões genômicas: quitina sintetase (CHS-1), B-tubulina2 (TUB-2), gliceraldeído-3 fosfato desidrogenase (GPDH), calmodulina (CAL), Actina (ACT) e rDNA ITS (ITS) e as sequências obtidas foram comparadas com sequências de outras espécies de Colletotrichum depositadas no GeneBank. Foram evidenciados clados de Colletotrichum associados à soja através da análise filogenética gerada a partir da análise de parcimônia. A análise filogenética agrupou o isolado de Tocantins com isolados de C. cliviae, com formação de subgrupos, indicando a existência de linhagens. A patogenicidade deste isolado, juntamente com cinco outros isolados de C. truncatum foi comparada em 16 genótipos de soja e diferenças de agressividade foram detectadas. Este é o primeiro relato de C. clivae como agente etiológico da antracnose em soja e o primeiro relato da espécie no Brasil. Foi obtida a formação in vitro da fse ascógena de C. clivae, pertencente a uma espécie do gênero Glomerella. Esta descoberta reforça o conceito que a antracnose em soja é causada por um complexo de espécies de Colletotrichum, tanto de conídios falcados quanto cilíndricos. As perdas devidas à doença no Brasil permanecem inderteminadas. Ainda, são frequentes os relatos de campo sobre a baixa eficiência de fungicidas para o controle da antracnose. Desta forma, testou-se a eficácia de fungicidas atualmente registrados para a cultura, bem como foram estimadas as perdas nas condições avaliadas. Foram conduzidos ensaios em lavouras comerciais em Alvorada, TO em duas safras consecutivas, com a cv. M-Soy 9144 RR. O delineamento utilizado foi o de blocos casualizados com quatro repetições e parcelas de 18 m2 (seis linhas de seis m). Foram realizadas duas aplicações de fungicidas, nos estádios R1/R2 e R5.2, e avaliados 10 produtos comerciais registrados para a cultura. A incidência de vagens sintomáticas foi determinada em R6. Na safra 2010/2011, apenas Azoxistrobin + Ciproconazol apresentou índices de incidência da doença significativamente menores do que a testemunha, a qual não diferiu dos demais tratamentos. Na safra 2011/2012 não houve diferenças significativas entre os tratamentos e a testemunha. As incidências em vagens nas duas safras variaram entre 10.7-15.6% e 9.5-16.3% respectivamente. As produtividades variaram entre 3.288 e 3.708 Kg ha-1 nas testemunhas e máximos de 3.966 e 4.110 Kg ha-1 nas parcelas tratadas, respectivamente em 2010/2011 e 2011/2012. Foram detectadas fortes e significativas correlações negativas entre a produtividade e a incidência da antracnose (r entre 0,81 e 0,85 nas duas safras). Análise de regressão indicou que a cada 1% de incremento da doença, cerca de 90 Kg/ha de grãos foram perdidos. Conclui-se que é alta a diversidade de C. truncatum, principal agente causal da antracnose da soja na América do Sul e que populações desta espécie estão possivelmente estruturadas geograficamente; que a espécie C. clivae é patogênica à soja e ocorre em condições naturais no norte Brasil; que a doença é responsável por perdas significativas de produção e que o controle químico com fungicidas sintéticos é insuficiente como único método de manejo da doença.