Tesis
O feminino e o irrepresentável
Fecha
2015-04-17Registro en:
SOBRAL, Paula Oliveira. O feminino e o irrepresentável. 2014. 145 f., il. Tese (Doutorado em Psicologia Clínica e Cultura)—Universidade de Brasília, Brasília, 2014.
repositorio.unb.br/handle/10482/17935
Autor
Sobral, Paula Oliveira
Institución
Resumen
A tese desenvolvida neste trabalho articula o feminino à noção de irrepresentável, a partir dos fundamentos de Sigmund Freud e de Jacques Lacan. A necessidade de articular esse tema se apresentou a partir dos impasses vivenciados na experiência clínica, principalmente dos questionamentos acerca do dispositivo analítico – a interpretação –, desembocando na questão do manejo clínico com o irrepresentável do gozo feminino. A psicanálise confere um lugar à discussão sobre o feminino e se empenha em indagar sobre a particularidade de um gozo especificamente feminino cuja principal característica é sua não inscrição nos domínios da linguagem – seu caráter irrepresentável. Na delimitação do feminino, recorremos ao ensino de Freud, à experiência com as histéricas, à teorização sobre o falo e à fundamentação da diferença sexual como estrutural e estruturante do psiquismo. Recorremos, ainda, ao ensino de Lacan na sua teorização sobre o mais além do falo que desemboca na questão do gozo feminino. Quanto ao irrepresentável, baseamos sua definição na articulação de conceitos cruciais à prática analítica: o de representação, em Freud, os de real, simbólico e imaginário, em Lacan, assim como nas noções de letra e significante e nas funções da fala e da escrita. A partir do ensino de Lacan, o feminino ganhou o estatuto de uma particularidade de gozo, pois, segundo ele, uma mulher é dividida em seu gozo. O falo, como significante que representa o sexo no inconsciente, não é suficiente para representar o feminino, pois ele só abarca a parte fálica do gozo. Há, no feminino, um gozo Outro que frui justamente em função da falta de um significante que inscreva o sexo da mulher no simbólico, no campo do Outro. É um gozo que se produz no ponto de furo do campo do Outro, onde o sujeito experimenta uma ausência de si, resultado da falta de inscrição simbólica, para viver, em uma espécie de assujeitamento, uma experiência com o irrepresentável. A leitura feita neste trabalho sobre a articulação entre o feminino e o irrepresentável na clínica psicanalítica segue a via do fazer poético e da invenção, que funcionam na cena analítica como um savoir-y-faire, um saber-fazer-ali, diante do real, do impossível e dos limites que o gozo impõe à palavra. Não é um saber-fazer comum, daqueles que se constituem nos moldes de um oficio onde algo é aprendido e transmitido. O savoir-y-faire é um saber-fazer com o vazio, no sentido de se virar, o sujeito, com o gozo que insiste irrepresentável, se virar com o traço radicalmente singular registrado como marca no gozo que insiste na repetição. Seguimos, então, a indicação de que, na clínica, o trabalho com o feminino convoca uma interpretação que inclua o irrepresentável, o que nos leva, ao mesmo tempo, ao campo da escritura, aos limites da interpretação e à invenção de uma saída singular e criadora.