Tesis
Atualidade dos estados-limite : trauma e trabalho do negativo
Registro en:
CARVALHO, Márcia Teresa Portela de. Atualidade dos estados-limite : trauma e trabalho do negativo. 2011. 192 f. Tese (Doutorado em Psicologia Clínica e Cultura)-Universidade de Brasília, Brasília, 2011.
Autor
Carvalho, Márcia Teresa Portela de
Institución
Resumen
Tese (doutorado)–Universidade de Brasília, Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura, 2011. Nosso tema de estudo são os denominados pela literatura psicanalítica atual de casos-limite, estados-limite ou borderline. Esta literatura aponta para o fato de esses pacientes se recusarem a seguir as regras clássicas propostas pelo analista, convidando-os a reinventar a escuta. A atualidade dos casos-limite tem exigido um diálogo entre teorias psicanalíticas tradicionalmente diferenciadas e separadas: a teoria pulsional e a das relações de objeto. Nesses casos observa-se que a perversão como o negativo da neurose cede passagem para as questões que envolvem as loucuras privadas de analisandos e analistas. O foco na sexualidade infantil se amplia em prol das questões relacionadas à fragilidade do Eu e às questões do trauma relacionado ao desamparo. A fragilidade do Eu tem interferido diretamente na constituição do senso de realidade. Importante se faz saber como funciona e se organiza o arcaico em prol da constituição e sustentação do aparato psíquico, o que traz à cena a importância do objeto primário para além das questões edípicas. Objetiva-se compreender os casos-limite a partir da metapsicologia freudiana. Circunscrevendo a questão dos casos-limite foi priorizado como eixo organizador do trabalho dois construtos teóricos: o trauma e o trabalho do negativo. Partimos do pressuposto de que mudanças estruturais acontecidas nestes últimos quarenta anos, naquilo que se refere à vida político-econômico-social de nossa sociedade, atuam de modo traumático sobre a constituição subjetiva dos sujeitos, incidindo diretamente sobre o que foi um dia recalcado e cindido, exigindo (re)nascimento psíquico; e que o trabalho do negativo diz do trabalho dos mecanismos de defesa e das pulsões primárias, especialmente a pulsão de morte, discutida em termos da função desobjetalizante e do narcisismo negativo. Concluímos que para além do princípio de prazer, o trauma é considerado constitutivo do psiquismo e tanto está relacionado a acontecimentos externos quanto a um excesso de excitação pulsional acumulada, desligada e impossibilitada de trânsito psíquico. A falha no trabalho do negativo diz da impossibilidade da perda do objeto primário, causando uma dependência excessiva deste, que não pode ser perdido nem reencontrado. Como consequência há, em diferentes escalas, a ação do masoquismo e da função desobjetalizante sobre o psiquismo e sobre os objetos internos e externos, além de um prejuízo no desenvolvimento da função de simbolização. Se o objeto não pode ser perdido, a função autoerótica também se estabelece mal e o objeto primário fica como que entalado: a criança nem está dele acompanhada nem pode largá-lo. Este trabalho é realizado por meio de pesquisa bibliográfico-analítica dos textos de Freud, de trabalhos publicados em livros de autores psicanalíticos, além de artigos publicados nas revistas indexadas no campo da Psicanálise. É feito uso também de publicações de autores da Sociologia para a descrição na atualidade cultural. _______________________________________________________________________________ ABSTRACT This paper discusses what current psychoanalytic literature calls borderline (in Portuguese, caso-limite or estado-limite). Literature shows that patients with borderline disorder refuse to follow the classic rules proposed by their analysts, making them reinvent the psychoanalytical interviews. Current borderline cases have demanded a correlative work with two traditionally different, separate psychoanalytical theories: Freud’s drive theory and the object relations theory. In both cases, it is observed that perversion as a negative of neurosis results in issues involving the patients and their analysts’ private madness. The focus on child sexuality has increased on behalf of fragility-related issues of the Self and abandonment trauma-related issues. The fragility of the Self has directly interfered in the establishment of the sense of reality. It is important to know how the archaic works and is organized on behalf of the establishment and preservation of the psychic apparatus, thus unfolding the importance of the primary object beyond the oedipical issues. This paper aims at the understanding of borderline cases from the perspective of the Freudian metapsychology, focusing on the trauma and the work of the negative, as called by André Green. It is assumed, in this paper, that the structural changes of our society’s social, political and economic life in the last forth years have had a traumatic effect on the subjects’ subjective constitution, affecting directly what was once repressed and cut, causing a psychic (re)birth. It is also assumed here that the work of the negative says of the work of the defense mechanisms and the primary drives, especially the death drive, in terms of the disobjectalization and the negative narcissism. As a conclusion, beyond the pleasure principle, trauma is considered part of the psyche, and it is related to both external events and the excess of accumulated, turned-off drive excitement, unable of psychic transfer. The flaw in the work of the negative in borderline cases is about the impossibility of the loss of the primary object, causing an excessive dependence that cannot be lost nor found again. As a consequence, there is a process, in different scales, of disobjectalization of the psyche and of both internal and external objects. The development of the symbolization is also negatively affected. If the object cannot be lost, the development of the self-erotic function is also negatively affected; the primary object gets stuck: the child is not accompanied by it, but also cannot release it. This study was carried out with a bibliographical-analytical research of Freud's texts, with works published in psychoanalytic books, and articles published in Psychoanalysis magazines. Descriptions of the current cultural scenario included in this paper were made based on articles by Sociology-related authors.