dc.description.abstract | Introdução: A tolerância bacteriana caracteriza-se pela habilidade de uma população microbiana em sobreviver a altas concentrações de uma droga bactericida sem que a Concentração Inibitória Mínima (CIM) seja alterada. Ao término do tratamento antimicrobiano, as cepas tolerantes voltam a se multiplicar, podendo causar infecções recalcitrantes e facilitar a resistência. Muitos estudos relacionam a exposição a antimicrobianos com a indução de tolerância. Embora observada em diversas espécies bacterianas, a tolerância ainda não foi investigada para o bacilo oportunista e emergente Stenotrophomonas maltophilia, comumente exposto a diversos antimicrobianos sem ação sobre este patógeno. Desta forma, nosso objetivo foi investigar se o uso prévio de determinados antimicrobianos não direcionados induz tolerância cruzada em S. maltophilia. Materiais e métodos: Para avaliar possíveis antimicrobianos indutores de tolerância foram feitos ensaios de triagem qualitativa e quantitativa. Nestes ensaios, expomos a cepa S. maltophilia ATCC® 13637 às drogas daptomicina (DAP), vancomicina (VAN) e gentamicina (GEN) e avaliamos a ocorrência de tolerância cruzada frente às drogas específicas contra S. maltophilia: sulfametoxazol/trimetoprim (SXT), ceftazidima (CAZ) e levofloxacina (LVX). Após a triagem, as cepas com características de tolerância induzida foram testadas quanto à similaridade genética por meio de ERIC-PCR. Para excluir a hipótese de contaminação e confirmar o gênero e a espécie das cepas, foi realizado o MALDI-TOF MS. Para avaliação da tolerância foram realizados os seguintes ensaios: determinação da razão Concentração Bactericida Mínima (CBM)/Concentração Inibitória Mínima (CIM) para LVX; teste de disco-difusão adaptado (para SXT, CAZ, LVX, ticarcilina-clavulanato [TCC], cloranfenicol [CLO], minociclina [MIN] e polimixina B [PXB]) e curva de tempo de morte (para LVX, CAZ e ciprofloxacina [CIP]). Resultados: Após indução da cepa parental ATCC® 13637 à DAP e à VAN, três cepas potencialmente tolerantes (D25, V15,6 e V3,9) foram isoladas, cuja similaridade genética com a parental foi comprovada por ERIC-PCR. As cepas induzidas mantiveram o mesmo valor da CIM de LVX que a cepa parental (0,125 μg/mL) com a razão CBM/CIM variando de 2,64 a 3,04 entre as cepas induzidas. No teste de disco-difusão adaptado, a cepa D25 mostrou alta tolerância para LVX, CAZ e TCC. Nas curvas de tempo de morte em fase estacionária frente à
50xCIM de LVX, a cepa D25 apresentou MDK99,99 maior que o da parental. A taxa de sobrevivência também foi maior para a cepa D25 na presença de CAZ (50xCIM). De modo geral, a cepa D25 apresentou maior taxa de sobrevivência em todas as curvas de tempo de morte, exceto para CIP. Conclusões: Encontramos resultados consistentes de que a exposição prévia de S. maltophilia à daptomicina induz tolerância cruzada à levofloxacina, ceftazidima e ticarcilina-clavulanato. Assim, uma terapia empírica equivocada com daptomicina poderia levar à falha destes antimicrobianos em erradicar S. maltophilia, culminando em infecções crônicas por uma subpopulação de microrganismos tolerantes.
Palavras-chave: Stenotrophomonas maltophilia. Tolerância. Persistência. Daptomicina. | |