Tesis
"NINGUÉM NASCE HOMEM: TORNA-SE HOMEM": A PRODUÇÃO DOS GÊNEROS E A PRECARIZAÇÃO DA VIDA - Problematizando as masculinidades em jovens em cumprimento de medida socioeducativa
Fecha
2018-10-25Registro en:
BERNABE, M. F., "NINGUÉM NASCE HOMEM: TORNA-SE HOMEM": A PRODUÇÃO DOS
GÊNEROS E A PRECARIZAÇÃO DA VIDA - Problematizando as masculinidades
em jovens em cumprimento de medida socioeducativa
Autor
SIQUEIRA, L. A. R.
Santos, M. F. L.
GOMES, R. S.
ZAMBONI, J.
Institución
Resumen
RESUMO
Conforme os dados da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, 95% dos jovens e
adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa (MSE) são do gênero
masculino. Realidade essa verificada pela pesquisadora na experiência de
atendimento aos jovens durante e após o cumprimento da MSE. Considerando a
cartografia um modo de pesquisa que não se desassocia da intervenção e
transformação social, essa dissertação foi realizada a partir de encontros e
experiências da pesquisadora, psicóloga e militante juntamente aos jovens em
cumprimento de medida, demais pesquisadores, militantes e profissionais que atuam
com juventudes e medidas socioeducativas, a partir de uma perspectiva que
problematiza o encarceramento da juventude negra, pobre e do gênero masculino. A
disseminação dos estudos feministas foi fundamental para questionar a fragilidade
dos discursos sobre os homens e a suposta definição universal de masculino. Esses
estudos contrariam a noção de uma masculinidade única, verdadeira e natural, à
medida que são múltiplas, mutáveis e compostas por distintos atributos. Em Foucault,
uma sexualidade normalizada é produzida e funciona como dispositivo político de
controle e regulamentação da vida. Com base nesse pensamento, questiona-se sobre
como as diferentes masculinidades, forjadas historicamente, atuam como mais um
dispositivo que foi criado e construído para preservar algumas vidas e aniquilar outras.
As masculinidades não são identidades fixas, mas práticas sociais dinâmicas,
performativas, que se constroem em relação às feminilidades; atravessadas pelas
questões de raça, classe e idade, as masculinidades variam conforme o contexto
social, cultural, político e econômico. Discute-se como a produção de modelos de
masculinidades pode intensificar a violência em corpos que são historicamente
submetidos, segundo Butler (2015), a condições de precariedade. Nas medidas
socioeducativas, a Psicologia é convocada a falar sobre os sujeitos, principalmente
no que concerne à adequação e enquadramento às normas sociais. Em uma
sociedade cuja norma é branca, adulta, masculina, heterossexual, urbana e classe
média, a Psicologia precisa ficar atenta a quais realidades estão sendo produzidas
através do seu saber, cujos discursos podem legitimar a condição de precariedade a
que essas vidas foram e ainda são submetidas. Os modelos dominantes de infância
e adolescência que comparecem nas legislações e políticas destinadas a este público
são destoantes da vida dos jovens em cumprimento de MSE, e, por vezes, legitimamo tratamento desigual dado às infâncias. Parte-se da premissa de que os diferentes
modelos de infância e adolescência, desigualdade social, racismo e gênero são
problemas intrínsecos à privação de liberdade e devem ser colocados em análise. Por
fim, discute-se como a invisibilidade dos gêneros e a produção de modelos de
masculinidades tornam-se fatores que maximizam e legitimam a violência contra
essas vidas.
Palavras Chave: Infâncias desiguais. Adolescências. Juventudes. Psicologia.
Medidas socioeducativas. Gêneros. Masculinidades.