dc.description.abstract | José Saramago revela uma particularidade expressiva na literatura portuguesa contemporânea: apropriar-se do fato histórico como material literário para o enredo de alguns de seus romances. A técnica, tão comum nos romances históricos, comporta novos caminhos na imaginação criativa do escritor, utilizando-se da escrita como revisora do passado e instrumento de análise e crítica social. Partindo dessa perspectiva, fazemos um percurso de contextualização do autor dentro da corrente neorrealista portuguesa do século XX, cujo estilo, a princípio, assumido pelo autor, foi paulatinamente substituído pela "metaficção historiográfica".
Levando em consideração essa teorização inicial, analisamos e discutimos um de seus primeiros romances: Levantado do chão. Delimitando especificamente o corpus literário a uma obra, sem que com isto deixemos de visitar outros trabalhos do escritor, visamos à interpretação e análise do processo de composição do romance saramaguiano, sobretudo na sua relação entre história e ficção. A partir de teorização advinda da literatura, filosofia e sociologia, sobretudo os conceitos de memória, esquecimento, metaficção, romance histórico e ideologia, analisamos como as formas de violência simbólica, sua produção, reprodução e manutenção, oriundas das instâncias políticas e religiosas, encontram-se organizadas a partir da diegese romanesca de Saramago tendo em vista o contexto agrário português encenado. | |