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Pais, professores e comunidade na educação do futuro
Author
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Institutions
Abstract
"Falta abrir o pensamento na educação e exercitá-lo, segundo Morin, como Sistemas Abertos..." Ao iniciarmos as atividades do "Grupo dos Cem" em Matão, 1997, nosso maior objetivo era envolver Pais, Professores e Comunidade para uma reflexão sobre a Educação do Presente, com vistas à Educação do Futuro. Queríamos, mesmo, reunir a comunidade de Matão, para discutir o momento em que vivemos na Educação, sua projeção para o Futuro, e quais as transformações necessárias a partir de agora.Acreditamos, porém, que só seria possível realizar uma reflexão produtiva, organizando um diálogo com todos os setores da comunidade, que através de indicações e escolhas organizariam cada qual seu grupo setorial garantindo a legitimidade da representação. Assim, 8 (oito) Grupos Setoriais formaram o "Grupo dos Cem", ou seja: Grupo dos Voluntários, Grupo dos Pais, do Setor Público, dos Jornalistas, do Sindicato dos Trabalhadores, dos Professores, dos Estudantes e Grupo dos Empresários ou, do 3º Setor. O número 100 é simbólico e não significa um limite imposto ao Grupo. A intenção é buscar sua multiplicação, o que poderia revelar a vontade da Comunidade em se inserir na responsabilidade com a Educação, em Matão. Com isso aprofundaríamos a compreensão sobre a importância e o significado da Educação, buscando uma base de convergência conceitual, o que permitiria ligar e integrar os diversos segmentos da Sociedade Matonense, em ações comuns e interdependentes, buscando no Universo da Educação maior sinergia e responsabilidade nas relações entre as partes envolvidas. Ano a ano cada segmento voltaria a elencar o nome de seus representantes; como foi feito em 1997,1998,1999...Será sempre necessário garantir-se a continuidade de elementos nos grupos, de um ano para outro, com a inserção de elementos novos, uma vez que as ações educacionais apresentam-se fragmentadas. Pais, professores e forças vivas da sociedade, não têm priorizado ações comuns e integradas para enfrentar os desafios da educação. A consciência de responsabilidade está excessivamente centrada na Escola e aparece timidamente nos demais segmentos da sociedade; considerando que o desafio da Educação é de todos, destaca-se a necessidade de ampliar a consciência de que a responsabilidade é de TODOS. Mais uma vez a Escola apresentou-se, abriu suas portas para que esse trabalho se efetivasse, reafirmando a sua centralidade na ação educacional, através do Projeto Escola Cem/97. Uma Escola, sem discriminação, sem retenção, sem agressão... mas com a possibilidade de integrar o trabalho dos diversos grupos setoriais formados, pois, naturalmente, "convocou" os jornalistas, os pais, os estudantes, os sindicalistas, os professores, os voluntários, o setor público e empresários - todos, para refletir sobre a Educação, sobre as crianças e jovens e o caminho a trilhar em suas vidas. Vários podem ser os caminhos, mas o horizonte passa ser o mesmo. Essa proposta viria para enriquecer e complementar o trabalho da Escola na Educação, pois a tarefa de Educar pela sua abrangência não pode ser realizada apenas por ela. Assim, a Escola e o "Grupo dos Cem", tornaram-se parceiros naturais, para um mesmo público alvo. Trinta e quatro Escolas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, participaram do Projeto. Formamos Agentes Multiplicadores de Educação, com alunos do CEFAM, para que todas as atividades, informações e reflexões pudessem envolver todas elas. Questionários, pesquisas, textos, panfletos foram apresentados pelos Grupos e aplicados, ou estudados com mais de 6.000 pais, nas portas das fábricas (aos pais de alunos), publicados, atingindo a cidade toda. As Escolas fizeram suas inscrições, foram motivadas a escolher seus "Temas" de trabalho, que em sua maioria se voltaram para uma "Escola sem agressão"; "Escola sem evasão"; "Escola sem retenção"; "Escola sem discriminação"... O trabalho realizado foi dinâmico e integrado onde buscavam: 0 % de evasão e 100% de permanência e promoção, num alto grau de envolvimento de todos os participantes. Em nenhum momento buscou-se homogeneizar a educação, mas trabalhar numa direção em benefício de todos. Começaram, então, a aparecer as produções escolares, em símbolos, desenhos, textos, pesquisas, poemas,... .Vimos através deles que a criança, o adolescente, seus pais, professores, puderam se expressar, expor suas dúvidas, angústias, certezas, e até sua esperança. Mostraram sua "visão do mundo", e por outro lado perceberam que poderão pousar um novo olhar sobre esse mundo, e encontrar novos caminhos, para a construção coletiva de um "Novo Mundo".Paralelamente uma linha de textos começou a ser produzida na dinâmica da Junção dos Grupos Setoriais, onde aparece, claramente, a necessidade da Escola, da família e da comunidade se associar, se fortalecer para cada um cumprir o seu papel na formação de cidadãos. Foi elaborada metodologia para que a Escola pudesse estabelecer esse vínculo com os pais, mostrando a importância de sua participação, na própria gestão da Escola, dando base de sustentação para o funcionamento dos Conselhos de Escola, cada um buscando sua identidade, através de uma Educação voltada para a convivência. Pais e Comunidade darão suporte à Escola, para que essa possa cumprir sua função específica de Ensinar. Ensinar o aluno a: pensar claramente; expressar-se adequadamente; fazer perguntas certas; buscar informação corretamente; relacionar-se adequadamente. Inicialmente o Projeto foi apresentado como os demais projetos dos Grupos Setoriais, que imediatamente demonstraram seu interesse em convergir seus esforços para o alcance de objetivos comuns. Em seguida representantes dos Grupos reuniram-se com os Diretores e Coordenadores das Escolas citadas, bem como os representantes de suas Associações de Pais e Mestres para discussão da proposta. Foram assim formados 15 (quinze) Grupos de Trabalho, onde constavam: Representante do Grupo Setorial da Educação; Representante de outro Grupo Setorial; Dois Multiplicadores de Educação - Alunos do CEFAM. Extremamente motivados transformaram os H.T.Ps das Escolas em momentos de reflexão de uma educação que é de preocupação de todos, e deve portanto transformar-se em pensar e agir de todos...Um grupo de estudantes do Curso de Pedagogia da UNESP de Araraquara, acompanhados pela Drª. Lucy Manzoli verificou algumas atividades "in loco" demonstrando grande interesse pelo projeto, pela sua forma de ver a educação, a escola e a forma de se buscar e encontrar parceiros para sua realização, numa ação que permite a volta à coletividade baseada na ética da convivência. Todo o trabalho visa a valorização das pessoas, das instituições considerando-as capazes de participar do processo educativo voltado para a "inclusão". Anualmente, o trabalho se desenvolve em 4 grandes etapas precedidas sempre por conferências, com o objetivo de motivar para a ação. Em 1997 foram realizados os seguintes seminários: 1º) "A Necessidade e a Urgência do Novo" - Conferencista: Prof. Ubiratan D'Ambrosio 2º) "A Educação como Garantia da ética e da Sobrevivência" - Conferencista: Lia Diskin 3º) "O novo paradigma na Educação e nas Novas Tecnologias da Comunicação" - Conferencista: Frederic M. Litto 4º) "Educação para a Cidadania" - Conferencista: Dr. Dalmo de Abreu Dallari Cada Seminário precede um trabalho de Grupo. Num primeiro momento os grupos setoriais elaboram suas propostas, que em plenária eram discutidas, debatidas, para aprovação. Todos ao final da reunião saem com proposta de trabalho. Trabalho esse que possibilita a cada grupo ganhar a consciência do seu potencial criador de espaços públicos educativos. As pessoas querem isso! As pessoas esperam por isso! E respondem aos chamados, pois percebem que será essa a forma de garantir seu direto a voz, e de ser ouvida. Na verdade são esses programas de complementação de Ação da Escola, que possibilitam a conscientização da população, do que lhe é de direito, principalmente quando se destinam à população de baixa renda na tentativa de garantir (com a convergência de objetivos e esforços da comunidade como um todo) às suas crianças e jovens igualdade de oportunidades, que muitas vezes são privilégios das classes sociais economicamente mais favorecidas, que, por frequentarem outros espaços, desenvolvem, além de habilidades instrumentais específicas, habilidades sociais indispensáveis à sua formação como cidadãos. Entre uma etapa e outra do programa os grupos setoriais voltavam a se reunir, para elaborar "Trabalho de Campo", lembrando Drummond de Andrade: O presente é tão grande! Não nos afastemos. Não nos afastemos muito. Vamos de mãos dadas.