Dissertation
Mortalidade perinatal hospitalar: classificaçäo dos óbitos do hospital universitário Cassiano Antonio Moraes, Vitória, Espírito Santo (1992-1993)
Fecha
1995Registro en:
BATISTA, Nildo Alves. Mortalidade perinatal hospitalar: classificaçäo dos óbitos do hospital universitário Cassiano Antonio Moraes, Vitória, Espírito Santo (1992-1993). 1995. 128 f. Dissertação (Mestrado em Saúde da Criança)-Instituto Fernandes Figueira, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 1995.
Autor
Barros, Geisa Baptista
Institución
Resumen
Os estudos de Mortalidade Perinatal (MPN) säo considerados pela OMS uma prioridade em saúde infantil sendo seu conhecimento fundamental para sua prevençäo. Todavia, a multiplicidade de causas que envolvem o óbito perinatal dificulta a confecçäo de uma classificaçäo que contemple apenas o evento nosológico desencadeante do óbito. Além do mais tal classificaçäo deve ser suficientemente simples e reprodutível para que possa ser utilizada de forma ampla, tornando comparável resultados obtidos em diferentes locais. Dentre as várias classificaçoes propostas, a de Wigglesworth tem como presuposto básico a estratificaçäo dos óbitos por faixa de peso, que isoladamente e a variável que mais se correlaciona com a MPN, e sua classificaçäo em 5 grupos mutualmente exclusivos, dispostos abaixo. Além do mais, ela baseia-se em achados clínicos, prescindindo de necropsia, cujos dados também podem ser utilizados, se disponíveis. Grupo 1- Obitos ocorridos antes do trabalho de parto (TP); Grupo 2- Malformaçoes Congenitas (MC); Grupo 3- Condiçoes relacionadas ao parto prematuro/imaturidade; Grupo 4- Condiçoes asfixicas desenvolvidas durante o TP e tocotraumatismo e, Grupo 5- Condiçoes especificas como isoimunizaçäo Rh e infecçoes congenitas. O estudo teve por objetivo identificar e dimensionar os problemas relacionados a MPN no Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (HUCAM) da Universidade Federal do Espírito Santo. Paralelamente ele avaliou a exequibilidade e o grau de concordância da classificaçäo de Wigglesworth utilizando dados clínicos isoladamente e associados aos achados anatomo-patológicos. Trata-se de um estudo descrito de corte transversal da MPN. Foram estudados todos os 152 óbitos perinatais ocorridos no HUCAM de janeiro de 1992 a dezembro de 1993, período em que nasceram vivos 4171 bebes pesando mais de 1000g. Dos 152 óbitos perinatais 89 eram natimortos e 63 neomortos, correspondendo a uma taxa de natimortalidade de 20,9/1000, neomortalidade de 15,1/1000 e MPN de 34,2/1000 nascimento únicos. A TMPN por faixa de peso foi de 171,2/1000 para os RN de BPN, 23,88/1000 para os bebes de peso insuficiente e 8,89/1000 para os que pesaram entre 3000 e 3999g ao nascimento. Oitenta e seis (56,6 por cento) RN eram do sexo masculino e 66 (43,4 por cento) do sexo feminino. A maioria (2/3) dos casos nasceram de parto operatório e 1/3 de parto normal. Deste total, 76,1 por cento eram prematuros e 70,2 por cento pesavam menos de 2500g ao nascer. A classificaçäo baseada em achados clínicos foi de fácil realizaçäo e a concordância entre os resultados da mesma quando utilizados os dados clínicos isoladamente ou associados aos dados anatomo-patológicos foi de 88,2 por cento, com índice de concordância de Kappa de 0,84, considerado excelente. Os óbitos ficaram assim catalogados: 52 (34,2 por cento) casos no grupo 1,23 (15,1 por cento) no grupo 2,34 (22,4 por cento) no grupo 3,24 (15,8 por cento) no grupo 4, 2, 19 (12,5 por cento) casos no grupo 5. Nos óbitos alocados no grupo 1 destacamos a presença de hipertensäo materna em 41,3 por cento dos casos. Embora existente em cerca de metade dos prontuários apenas, as informaçoes sobre a assistência pré-natal mostraram que 50 por cento das mäes frequentaram quatro ou mais consultas, com somente uma näo tendo feito pré-natal. O grupo de malformaçoes congêntitas, com 15,1 por cento dos casos, foi considerado bastante numeroso, mesmo quando comparado com resultados de outros hospitais de referência. As malformaçoes cardíacas e do Sistema Nervoso Central foram isoladamente as mais frequentes. No conjunto, porém, as malformaçoes múltiplas foram as mais encontradas. Os óbitos relacionados a prematuridade foram o segundo maior grupo, com 22,8 por cento dos casos. Chamou atençäo a percentagem de asfixia moderada a grave no 1§ minuto de vida, presente em 2/3 dos casos. Em 13 casos (38,2 por cento), pudemos identificar situaçoes de deficiência na assistência neonatal, que provalvemente contribuiram para o óbito. Quanto aos óbitos relacionados a afixia intra-parto e toco-traumatismo (24 casos (15,8 por cento)),10 foram neomortos e 14 natimortos. Destes, 71,4 por cento ocorreram após a internaçäo hospitalar materna e podem ser apontados como "eventos sentinela" para monitoraçäo da assistência perinatal hospitalar. Na análise dos neomortos deste grupo e dos prematuros do grupo 3, ficou patente a falta de coerência entre o escore de Apgar e a conduta pediátrica para os casos de asfixia grave, uma vez que nenhum RN foi submetido a cateterismo umbilical para infusäo de líquidos ou drogas mesmo naqueles com Apgar menor ou igual (<) 3 no 5o minuto de vida. Dentre os 19 óbitos (12,5 por cento) cuja causa específica foi identificada, destacamos 10 casos de sífilis congênita, cifra inaceitável para uma doença com diagnóstico e tratamento conhecidos. Nove deles nasceram mortos, correspondendo a 9,8 por cento do total de natimortos. A classificaçäo de Wigglesworth possibilitou identificar e dimensionar os principais problemas perinatais relacionados aos óbitos estudados, apontando áreas críticas no cuidado de saúde prestado no HUCAM. Mostrou também ser um excelente mecanismo de monitoraçäo da MPN, oferecendo subsídios para o planejamento de açoes de saúde na área perinatal.