dc.creatorEckert, Cornelia
dc.creatorRocha, Ana Luiza Carvalho da
dc.date2000-12-01
dc.identifierhttps://seer.ufrgs.br/index.php/iluminuras/article/view/9105
dc.descriptionBrasil, Arapongas, l938, um antropólogo francês em visita ao país não se contém diante do dinamismo das imagens do tempo que presidia o nascimento da cidade nos Trópicos e afirma que ali habita um povo cujo trajeto da barbárie à decadência jamais havia conhecido a força da civilização.   Isso foi dito em Tristes Trópicos (1955), onde Lévi Strauss colore um país bucólico e nostálgico na descrição de suas reminiscências. Construindo um gênero estilístico marcado pelo seu espanto frente ao deslocamento do eu (Europa) para o outro (Brasil), narra um país nativo ameaçado pela “fricção interétnica”2 e pelas conseqüências da modernidade nas cidades brasileiras que ele qualifica como tristes porque degradadas na flecha do tempo.   À mercê dos mitos da ruína e do fracasso e sob a pressão de fábulas progressistas, as cidades industriais da América tropical dos anos 30 alimentar-se-iam vorazmente do novo, sem nenhum compromisso com o seu passado histórico. O passado do lugar (le pays, das land) e toda a duração de processos sociais diversos eram reduzidos à idade do mundo colonizador e ao modelo evolutivo de longo prazo (longue durée) constitutivo da experiência e do pensamento europeu, repousando o Brasil na imagem de um tempo agitado, vertiginoso.   Sob a égide da sua experiência temporal, o olhar estrangeiro de Lévi Strauss revisita as suas próprias lembranças vividas na Velha Europa (adulta) e nos mundos colonizados (infantilizados) à medida que adentra as diferentes regiões do Brasil, do litoral ao sertão. Desfiando o mito europeu do Progresso, a sociedade brasileira se apresenta ao antropólogo francês sob a ótica de um ciclo temporal agitado, discordando da cadência contínua da lógica centrada na experiência européia pela qual se orienta o autor dos Tristes Trópicos.   Aprisionado ao antagonismo de uma concepção de tempo vertiginoso que tudo devora e de um tempo lento que tudo reconcilia, o pensamento eurocêntrico de Lévi Strauss limita a possibilidade interpretativa da experiência temporal das cidades brasileiras. Nesse sentido, ao analisar as cidades brasileiras, o autor constata que, nelas, o engajamento humano é precário, os citadinos são desprendidos e a estética urbana é regida pela desordem. Elementos estruturantes de deformações à ordem processual idealizada na memória “do” social no Velho Mundo. O país perde-se na informidade temporal, sem poder contribuir na mesma eficácia de significados às interpretações das estruturas simbólicas do desenvolvimento do patrimônio humano universal.   Nas trilhas de um tempo curto e seguindo-se o ritmo da história unilateral e triunfante da Modernidade, muito se tem afirmado a respeito do aspecto indigente, mutante e mutável da vida social nos Trópicos tanto quanto tem sido comentado a propósito da imagem da destruição que encerra o processo de instalação do fenômeno urbano brasileiro.   Daí insistir-se aqui em interpretar a poética da instabilidade no Brasil e, em reconhecer a construção de significado político (política da forma e do gênero discursivo e interpretativo da historiografia e da etnografia) no qual repousam as representações que oferecem explicações sobre a trajetória brasileira como desvio (ou contramão) de uma estética baseada na ordem e na harmonia do projeto civilizatório.pt-BR
dc.formatapplication/pdf
dc.languagepor
dc.publisherUFRGSpt-BR
dc.relationhttps://seer.ufrgs.br/index.php/iluminuras/article/view/9105/5221
dc.sourceILUMINURAS; v. 1 n. 2 (2000): Os jogos da memória e seus espaços fantásticospt-BR
dc.source1984-1191
dc.titleA retórica do mito do progresso, "Brasil, um país sem memória!"pt-BR
dc.typeinfo:eu-repo/semantics/article
dc.typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion


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