Tese (Doutorado)
Práticas obstétricas na atenção ao parto na Região Sul: estudo seccional a partir da pesquisa Nascer no Brasil
Autor
Velho, Manuela Beatriz
Institución
Resumen
Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Florianópolis, 2016. OBJETIVO: Descrever as práticas na atenção ao parto, identificar modelos de assistência obstétrica e estimar os fatores associados às práticas e aos modelos de assistência em gestantes de risco habitual assistidas na Região Sul do Brasil. MÉTODO: Estudo seccional realizado a partir da pesquisa Nascer no Brasil. Participaram 2.668 puérperas em 46 instituições da Região Sul. Os dados foram coletados em entrevista com puérperas, extraídos dos prontuários e cartões de pré-natal. Na análise descritiva calculou-se a prevalência dos desfechos; na análise multivariável identificaram-se os fatores associados aos desfechos através da Regressão Logística, Logística Multinomial e Poisson, com análises brutas, ajustadas e IC95%; na análise exploratória utilizaram-se técnicas de agrupamento para identificar modelos de assistência. RESULTADOS: foram apresentados em três manuscritos. No primeiro, a pesquisadora observou a baixa prevalência de boas práticas: oferta de dieta (18,0%), métodos não farmacológicos para o alívio da dor (34,0%) e movimentação (63,6%); a elevada prevalência de práticas intervencionistas: tricotomia (44,7%), enema (38,2%), cateter venoso (70,2%), ocitocina (54,6%), amniotomia (53,8%), posição de litotomia (95,0%), Kristeller (32,1%) e episiotomia (54,7%); e ainda, a baixa prevalência de analgesia raquiperidural (7,9%). A adoção de boas práticas e menor uso de práticas intervencionistas foram associadas com fonte de pagamento pública e no atendimento em hospitais ?Galba de Araújo? ou por enfermeiro/enfermeiro obstetra no trabalho de parto. Mulheres com maior escolaridade (ORaj 11,34 IC95% 2,98-43,14) e atendidas com fonte de pagamento privada (ORaj 9,20 IC95% 3,11-27,19) tiveram maior chance na realização de analgesia raquiperidural. No segundo manuscrito foi verificada a prevalência do trabalho de parto espontâneo (48,0%), da indução do trabalho de parto (14,0%), bem como a proporção de cesárea no trabalho de parto espontâneo (6,9%), na indução do trabalho de parto (5,6%) e cesárea eletiva (38,0%), frequências que contribuíram para uma taxa global de 50,5% de cesárea. A primiparidade e história de cesárea prévia estiveram associadas à cesárea, independente do trabalho de parto. A cesárea eletiva esteve associada com idade = 35 anos (ORaj 5,45 IC95% 3,16-9,39), classe social AB (ORaj 3,10 IC95% 1,92-4,99), gestação entre 37 e 38 semanas (ORaj 1,65 IC95% 1,22-2,24), mesmo profissional no pré-natal e nascimento (ORaj 13,83 IC95% 8,85-21,61) e fonte de pagamento privada (ORaj 11,50 IC95% 6,64-19,93). No terceiro manuscrito foram construídos três modelos de assistência, a partir do agrupamento das práticas obstétricas. O modelo com Boas Práticas se caracteriza por elevada proporção de trabalho de parto (69,7%), contato pele a pele (51,8%), presença de acompanhante (88,1%) e a menor proporção de cesárea (37,9%). O modelo Intervencionista I se distingue pela menor proporção de trabalho de parto (64,4%), uma proporção intermediária de cesárea (42,7%) e reduzida proporção da presença de acompanhante (35,8%) e contato pele a pele (22,7%). O modelo Intervencionista II é evidenciado pela reduzida proporção de trabalho de parto (16,1%), contato pele a pele (24,3%), elevada presença de acompanhante (95,8%) e cesárea (88,0%). CONCLUSÃO: Na Região Sul predomina uma assistência obstétrica intervencionista, na contramão das melhores evidências, com elevada taxa de cesárea eletiva e maior adoção às boas práticas nos hospitais públicos.<br> Abstract : OBJECTIVE: Describe practices in labor and delivery care, identify obstetric assistance models and estimate associated factors with practices and assistance models in habitual risk pregnant women assisted in Southern Region of Brazil. METHODS: Cross-sectional study developed from the Research Birth in Brazil. In the Southern Region 2,668 postnatal women, of 46 institutions, participated in this study. The data was collected by interview with puerperal women and by medical and prenatal cards records. In the descriptive analysis was calculated the prevalence of outcomes; in multivariable analysis was identified the factors associated to outcomes through Logistic Regression, Multinomial and Poisson, with crude analysis, adjusted and their 95% confidence intervals; in exploratory analysis was used clustering techniques to identify models of assistance. RESULTS: were presented in three manuscripts. In the first manuscript was identified low prevalence of best practice: diet offer (18.0%), non-pharmacological methods of pain relief (34.0%) and moving (63.6%); and high prevalence of obstetric interventions: perineal shaving (44.7%), enema (38.2%), venous catheter (70.2%), oxytocin (54.6%), amniotomy (53.8%), lithotomy position (95.0%), uterine fundal pressure (32.1%) and episiotomy (54.7%); and low prevalence of epidural analgesia (7.9%). The adoption of best practices and less use of interventionist practices were associated with the care provided by nurse/midwife nurse in labor, in public health system and in Galba de Araújo hospitals. Women with higher schooling (ORaj 11.34 IC95% 2.98-43.14) and attended with private payment source (ORaj 9.20 IC95% 3.11-27.19) had a greater chance to receive epidural analgesia. In the second manuscript was verified the prevalence of spontaneous labor (48.0%), induced labor (14.0%), as well the prevalence of cesarean in spontaneous labor (6.9%), induced labor (5.6%) and elective cesarean section (38.0%), frequencies that contributed to an overall rate of 50.5% of cesarean section. Primiparity and previous cesarean history were associated with cesarean section, regardless the moment of occurrence of labor. Elective cesarean section was associated with age = 35 years (ORaj 5.45 IC95% 3.16-9.39), social class AB (ORaj 3.10 IC95% 1.92-4.99), gestations between 37 and 38 weeks (ORaj 1.65 CI95% 1.22-2.24), same professional in prenatal and birth (ORaj 13.83 IC95% 8.85-21.61) and private payment source (ORaj 11.50 IC95% 6.64-19.93). In the third manuscript by the cluster of the best practices was developed three Models of assistance. The Model of Best practices was characterized by high proportions of labor (69.7%), skin to skin contact (51.8%), presence of companion (88.1%) and the lowest proportion of cesarean section (37.9%). The Interventionist Model I was characterized by lower proportion of labor (64.4%), an intermediate proportion of cesarean section (42.7%) and reduced proportions of presence of companion (35.8%) and skin to skin contact (22.7%). The Interventionist Model II was characterized by reduced proportion of labor (16.1%) and skin to skin contact (24.3%) and high presence of a companion (95.8%) and cesarean section (88.0%). CONCLUSION: In the South Region predominates an interventionist obstetric care, in the opposite direction of the evidence, with high elective cesarean section rate and increased adoption of best practices in public hospitals.