Tesis
Interseccionalidade de cor/raça, sexo/gênero e posição socioeconômica: avaliação de instrumento para aferição de experiências discriminatórias
Autor
Bernardo, Fabiula Renilda
Institución
Resumen
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, Florianópolis, 2017. Introdução: Em meio à literatura com enfoque nas iniquidades sociais em saúde, emergiu desde os anos 1980 uma robusta produção científica que tem destacado o papel da discriminação como um determinante social do processo saúde-doença. Atualmente, uma estratégia metodológica comumente utilizada para aferir e avaliar processos discriminatórios interpessoais e seu impacto sobre condições e iniquidades em saúde tem sido o emprego de escalas de discriminação. Porém, dentre as limitações relacionadas com a utilização desses instrumentos, salienta-se que os mesmos não consideram na elaboração de seus itens que determinadas formas de discriminação são mais frequentemente perpetradas contra mulheres, especificamente as negras e de posição socioeconômica baixa. Assim, o presente estudo teve como objetivo analisar a Escala de Discriminação Explícita (EDE), buscando identificar em sua elaboração a interseccionalidade sob a perspectiva do cruzamento entre cor/raça, sexo/gênero e posição socioeconômica. Métodos: Trata-se de um estudo transversal baseado na análise de dados oriundos de pesquisa realizada com graduandos da Universidade Federal de Santa Catarina, regularmente matriculados no primeiro semestre de 2012. Inicialmente, realizou-se uma apreciação geral das características socioeconômicas e demográficas da amostra. Em seguida, foram estimadas as frequências relativas para os 18 itens da EDE estratificadas por sexo/gênero, cor/raça e posição socioeconômica. Por fim, análises de regressão binomial negativa permitiram identificar se sexo/gênero, cor/raça e posição socioeconômica constituem preditores do escore de discriminação obtido com o instrumento, mesmo após o ajuste para covariáveis que potencialmente afetam as relações de interesse. Resultados: A análise de cada situação específica de tratamento diferencial sugere que a EDE possibilita a mensuração da discriminação dentro de um quadro interseccional, uma vez que dá visibilidade as experiências discriminatórias vivenciadas por subgrupos minoritários. Contudo, tal tendência não foi observada no escore global do instrumento, o que sugere falta de escalabilidade. Pesquisas futuras são necessárias a fim de enfrentar a limitação observada. Abstract : In the midst of literature focusing on social inequities in health, a robust scientific production has emerged since the 1980s, highlighting the role of discrimination as a social determinant of the health-disease process. Currently, a methodological strategy commonly used to assess and evaluate discriminatory interpersonal processes and their impact on health conditions and inequities has been the use of discrimination scales. However, among the limitations related to the use of these instruments, it is pointed out that they do not consider in the elaboration of their items that certain forms of discrimination are more frequently perpetrated against women, specifically black women with low socioeconomic status. Thus, the present study had as objective to analyze the Explicit Discrimination Scale (EDE), seeking to identify intersectionality in its elaboration from the perspective of the cross between color/race, sex/gender and socioeconomic position. Methods: This is a cross-sectional study based on the analysis of data from a survey carried out with undergraduate students at the Federal University of Santa Catarina, regularly enrolled in the first semester of 2012. Initially, a general assessment of the socioeconomic and demographic characteristics of the sample. Next, the relative frequencies for the 18 EDE items stratified by sex/gender, color/race, and socioeconomic status were estimated. Finally, negative binomial regression analysis allowed us to identify whether sex/gender, color/race and socioeconomic status are predictors of the discrimination score obtained with the instrument, even after adjusting for covariates that potentially affect relations of interest. Results: The analysis of each specific situation of differential treatment suggests that the EDE allows the measurement of discrimination within an intersectional framework, since it gives visibility to the discriminatory experiences experienced by minority subgroups. However, this trend was not observed in the overall score of the instrument, which suggests lack of scalability. Future research is needed to address the observed limitation.