Actas de congresos
O edifício da FAUUSP e os materiais do brutalismo
Fecha
2013-10-15Registro en:
Seminário DOCOMOMO Brasil, X, 2013, Curitiba
978-85-60188-14-7
Autor
Contier, Felipe de Araujo
Institución
Resumen
O trabalho analisa a história da produção do edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo, projetado por João Batista Vilanova Artigas (1915-1985) em 1961 e concluído
em 1969. Mais especificamente, o artigo se volta aos materiais do edifício, oferecendo insumos para uma
discussão sobre o papel do chamado “brutalismo paulista” na década de 1960.
O edifício da FAUUSP, como se sabe, é um marco na arquitetura moderna brasileira. Seu caráter
paradigmático consiste na síntese das posições programáticas de Artigas, tanto em relação ao ensino de
arquitetura como em relação à poética moderna, que ultrapassa o limite autoral e constitui uma escola. São
características dessa escola – por vezes chamada de “paulista”, “brutalista” ou “artiguista” – alguns
princípios como a continuidade espacial, o elogio das formas estruturais, a verdade dos materiais e o
desenvolvimento das forças produtivas através da superação tecnológica. Esses princípios respondiam a
algumas das questões mais urgentes da arquitetura moderna brasileira naquele período, deslocando a nova
monumentalidade para uma dimensão construtiva. A nova poética, claramente exposta no projeto da
FAUUSP, coincide com o surgimento de uma estética que atribuiu um novo valor político e crítico à
produção. Passam a ser frequentes, por exemplo, interpretações do concreto armado brasileiro como
síntese do subdesenvolvimento, por suas marcas de feitura artesanal e seus recordes tecnológicos.
O objetivo deste artigo é contribuir com esse debate caracterizando em detalhe a produção do edifício em
seus materiais: o concreto armado, a esquadria, os materiais de acabamento e os componentes industriais.
O exame de aspectos históricos da produção do edifício, recolhidos em documentos originais e
depoimentos, permite verificarmos de que modo a poética arquitetônica participa das decisões da obra e
qual o seu impacto na economia do edifício e em sua forma de produção. Aprendemos, por exemplo, que o
concreto armado apresenta manifestações visuais distintas e independentes de seu modo de produção (que
foram pelo menos três: moldado in loco, protendido, e com agregados leves, sem função estrutural); que a
empena da fachada exigiu uma fundação própria para seu cimbramento; que a modulação dos caixilhos não
correspondia à modulação da estrutura; que a resina epóxi foi usada de modo pioneiro e experimental; que
as fôrmas foram produzidas por um hábil carpinteiro português, mas as relações de trabalho eram
precárias; que a contratação do projeto básico previa o detalhamento durante a obra pelo Escritório Técnico
do Fundo para a Construção da Cidade Universitária.
Essa noção ampla de material, entendida como a matéria mais o trabalho social que a define
historicamente, nos permite tratar, simultaneamente, de aspectos técnicos, econômicos e artísticos da obra
e assim compreender com maior exatidão dos termos do debate acerca da produção na arquitetura
“brutalista” e seu papel político. The paper analyzes the history of the production of the building of Faculdade de Arquitetura e Urbanismo of
the Universidade de São Paulo, designed by João Vilanova Artigas (1915-1985) in 1961 and concluded in
1969. More specifically, the article focuses on its building materials, providing inputs for a discussion of the
role of the "São Paulo Brutalism" in the 1960s.
The building of FAUUSP is a milestone in Brazilian modern architecture. Its paradigmatic feature consists in
the synthesis of Artigas’s program propositions, regarding both the teaching of architecture and a modern
poetry, which exceeds the limit of an authorial work and constitutes a school. Some principles of this school -
sometimes called "of São Paulo", "brutalist" or "artiguista" – are spatial continuity, apology of structural
forms, the truth of the materials and the development of productive forces thru technological upgrades.
These principles attended to some of the most urgent issues of Brazilian modern architecture in that period,
bringing the new monumentality to a constructive dimension. The new poetic clearly exposed in FAUUSP
project, coincides with the emergence of an aesthetic that assigns a new political and critical value to the
production. It becomes frequent, for example, interpretations of reinforced concrete as a synthesis of
Brazilian underdevelopment, for its hand craft trace and its technological records.
The purpose of the present article is to contribute to this debate characterizing in detail the production of the
building in its materials: reinforced concrete, the curtain-walls, finishing materials and industrial components.
An examination of the historical aspects of the building production, collected from documents and
testimonies, allows us to check how the architectural poetic interferes in the decisions of the work and its
impact on the economy of the building and in its production form. We learn, for example, that the concrete
presents visual aspects distinct and independent of its mode of production (which were at least three: cast in
place, post-tensioned, and with lightweight aggregates without structural function); we also learn that the
facades walls demanded a specific foundation for its molds; modulation of frames did not correspond to the
structure; that the use of epoxy resin was experimental and pioneer; that the molds were produced by a
skilled portuguese carpenter, but labor relations were poor; that the basic design hiring counted with detail
drawing during the construction by the Technical Office of the Fundo para a Construção da Cidade
Universitária.
This broad notion of material, understood as the matter plus the social work that defines it historically, allows
us to approach both technical, economical and artistic aspects of the work. Thus, we can appreciate more
accurately the terms of the debate on the production of "brutalist" architecture and its political role.