masterThesis
Compartilhando sons e ideias : o sombarato e as práticas discursivas em torno da música
Registro en:
Sotero Caio Netto, Manoel; Marcondes Ferreira Soares, Paulo. Compartilhando sons e ideias : o sombarato e as práticas discursivas em torno da música. 2010. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2010.
Autor
Sotero Caio Netto, Manoel
Institución
Resumen
Procuro compreender o fenômeno do compartilhamento livre de músicas com o uso da
internet, identificando as reverberações dessa prática social e discursiva no entorno da música,
que envolvem também condições de produção e consumo de textos. Diante do material
discursivo construído do Sombarato, estou interessado em analisar como a decisão de se
compartilhar é legitimada pelos porta-vozes, consumidores e colaboradores, como eles
respondem a críticas potenciais, ou como eles formam uma auto-identidade positiva. Trato,
portanto, desse arranjo colaborativo acompanhado de uma elaboração discursiva que, por sua
vez, busca ser justificado em torno de aspectos de legalidade e legitimidade envolvidos por
este tipo de prática. Além disso, preocupações com novas éticas que se fundam (criativas e
colaborativas), dificuldades de acesso, estéticas, assimetrias entre público - obra - artista -
indústria, entre outras são colocadas. As justificativas podem ser diversas, mas o foco não está
nas atitudes individuais, e sim na construção social do fenômeno do compartilhamento. Esse
consumo qualitativamente distinto provocou alterações na sensibilidade para com a música e
todo o seu arranjo. O estudo do compartilhamento de música digital deve ser dinâmico, ou
seja, não pode ser admitido somente sob essa perspectiva do impacto estrutural e das
jurisdições. Deve-se, portanto, ir além, problematizando a própria experiência de consumo,
avaliando as novas dimensões de escuta, subjetividade, corporeidade e sensibilidades
modernas. As práticas estão sendo compreendidas por aqueles que a realizam como atos
justos. A questão é que a indústria de copyright busca inverter essa moralidade, construindo
um discurso e caracterizando essa prática emergente como ilegal e injusta. Poderíamos falar
de uma polarização discursiva no que tange a prática do compartilhamento. A indústria busca
conter a emergência dessa prática, alegando os prejuízos referentes aos seus direitos
patrimoniais. No caso daqueles que compartilham, legitimar a troca de arquivos sem fins
lucrativos tem sido o horizonte perseguido e elaborado discursivamente. Entre essas
estratégias da indústria fonográfica está um projeto de ―educação moral‖ e criminalização
desses consumidores de ―música gratuita‖. Existe um grande movimento no sentido de causar
um desconforto nesses consumidores sob parâmetros de ilegalidade e imoralidade.
Compreendo que existe uma pressão para que esse consumidor se sinta desconfortável ou
incomodado como a forma gratuita de consumir músicas (por parte da indústria fonográfica).
Este apelo não é só mal sucedido, como é replicado, não convence e soa cínico. Os apelos da
Indústria Fonográfica articulam, sobretudo, que suas intenções estão ajustadas a preocupações
como a compensação dos esforços dos criadores. No entanto, o que podemos compreender é
que os direitos autorais estão muito mais concentrados nos direito patrimoniais e conexos do
que no autor, propriamente. A questão do Direito Patrimonial é fundamental, uma vez que as
particularidades destes direitos até pouco tempo não eram discutidas por um público mais
amplo. Os usuários compartilham a música gratuitamente porque gostam delas e dos artistas e
não porque querem causar algum tipo de dano. Não existem evidências que os consumidores
não queiram pagar pelas obras que eles compartilham, mas parece ser suficientemente claro o
desinteresse em pagar aos intermediários valores abusivos Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico