masterThesis
Comunicaçao e intersubjetividade : um olhar sobre processos interacionais em crianças surdas
Registro en:
Roosevelt de Melo Florencio, Delano; Isabel Patricio de Carvalho Pedrosa, Maria. Comunicaçao e intersubjetividade : um olhar sobre processos interacionais em crianças surdas. 2009. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2009.
Autor
Roosevelt de Melo Florencio, Delano
Institución
Resumen
A ontogênese humana é freqüentemente estudada sob a perspectiva da aquisição
da linguagem e, especialmente, da aquisição do signo lingüístico. Considera-se a
criança ouvinte e se perscruta o desenrolar da compreensão e domínio de uma
língua oral. Atenta-se muito pouco para a criança surda, que não aproveita
informações advindas dessa língua, a não ser casos especiais de crianças surdas
oralizadas. Teóricos sociointeracionistas como, George Mead, Henri Wallon e
Michael Tomasello, descrevem e explicam o processo ontogenético no curso de
interações sociais, pondo em relevância o meio sociocultural em que vive a criança,
único a propiciar-lhe condições adequadas ao seu desenvolvimento. Com o apoio
dessas teorias o presente estudo procurou investigar o papel da linguagem no
desenrolar do processo de intersubjetivação, em crianças surdas, que se expõem à
aprendizagem da língua de sinais e que convivem com pessoas falantes de uma
língua oral (ouvintes). Foi observado e videogravado um grupo de 10 crianças
surdas, de ambos os sexos, na faixa etária entre 4 e 8 anos, numa sala de
atividades de Educação Infantil de uma escola pública de Pernambuco. Estas
crianças têm uma característica em comum, qual seja, serem filhos e filhas de pais
ouvintes e estarem expostas à aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais
LIBRAS, assim como da língua portuguesa em sua forma escrita. Foram recortados
e analisados segmentos de vídeo em que as crianças interagiam entre si ou com
dois professores, os quais dominavam a língua de sinais. Os resultados indicam que:
a) crianças surdas utilizam-se de movimentos, gestos, mímicas e sonorização em
seus esforços comunicativos com o outro parceiro; b) tanto quanto crianças ouvintes,
elas imitam umas as outras ou encenam situações, facilmente reconhecidas pelo
observador; c) sem o domínio da língua de sinais, ainda em processo de
aprendizagem, as crianças completam as lacunas comunicativas por meio de
gestos, movimentos do corpo e outros modos de expressão, demonstrando
intencionalidade em orientar a atenção do outro para o tópico em discussão; d) os
processos interacionais parecem propiciar aos sujeitos surdos, tanto quanto já se
conhece em relação aos ouvintes, o esteio necessário para a assimilação e
interpretação da cultura da qual fazem parte; eles, por sua vez, também promovem
novas concepções, artefatos e rotinas no grupo. Discute-se, finalmente, que esses
achados poderão contribuir para modificar concepções, ainda presentes, de que
sujeitos surdos são portadores de uma incapacidade e incompletude no que tange
à utilização de ferramentas lingüísticas. Têm-se evidências de trocas interacionais
efetivas que constituem o processo de intersubjetivação de sujeitos surdos, que se
utilizam de recursos comunicativos a seu alcance e adquirem, progressivamente, o
domínio de uma língua, no caso, a LIBRAS, de caráter gestual/visual