dc.description | No inicio dos anos 1980, especificamente na configuração das artes plásticas, uma narrativa
crítica entre outras que marcaram o importante debate sobre a arte contemporânea e
seus circuitos de atuação nacional , alimentou e foi alimentada pelos modos de fazer
de jovens artistas, e produziu alguns enunciados sobre as maneiras e os modos de se
fazer arte naqueles anos. O retorno ao fazer da pintura é anunciado em oposição a
uma arte conceitual vista como fria, hermética e cerebral , marcadamente localizada
nos anos 1970. Grosso modo, o discurso da crítica criara um rótulo para sintetizar a
novidade: Geração 80 , pretendendo traduzir as performances de jovens artistas, em
sua maioria pintores, oriundos de formação das escolas de arte localizadas no eixo
Rio de Janeiro e São Paulo. Não obstante, tal generalização, como qualquer outra, não
deu conta de dizer de toda uma produção artística que se espraiava em diversas poéticas
e práticas, seja nessas duas metrópoles, e muito menos ao considerar as artes realizadas
em outras geografias e lugares do Brasil. Nesse sentido, fez-se imperativo desnaturalizar
o rótulo Geração 80 e a chamada Nova Pintura feita pelos jovens artistas, que não
foi adequadamente problematizada pela crítica brasileira, considerando que a produção
pictórica era desprovida de um discurso crítico que a [objetivasse] como produto
pictórico portador de uma conceituação específica (Basbaum, 2001, p. 307). O processo
realizado para desnaturalizar tais pressupostos imprimiu-se com a construção de uma
cartografia das artes plásticas na cidade do Recife na década de 1980, feita por meio de
relatos orais e de memória de artistas plásticos e críticos de arte. Realizei 42 entrevistas
com roteiros abertos e essas se constituíram em textos narrativos que estão analisados no
corpo da tese. Trabalhei com fontes documentais gráficas jornais, revistas, catálogos - e
com as narrativas pictóricas realizadas por artistas brasileiros, sobretudo pelos artistas
jovens do Recife que à época aspiravam reconhecimento para ocupar o meio artístico
local e nacional. Ao longo da pesquisa um desenho cartográfico se esboçou, sendo, por
meio dele, localizáveis lugares de produção, formação e exibição das artes plásticas na
cidade do Recife, e maneiras de fazer e praticar a configuração e as linguagens das artes
plásticas naqueles anos. Entre tensões, rearranjos e negociações os artistas plásticos
jovens e os já estabelecidos à época reinventaram o campo das artes na cidade. No
entanto, foram os novatos , jovens artistas, outsiders, que produziram deslocamentos
nas maneiras de fazer e praticar as artes plásticas, re-atualizando os diálogos entre as
tradições e o novo | |