dc.description | No princípio era o mangue. Só depois é que vieram os sambaquis com suas casas de ostra e
óleo de baleia. Séculos e séculos depois, os Tupinambá, os Tupi e os Guarani habitaram o
litoral do manguezal brasileiro. Até que vieram os colonizadores e exploraram mangues,
índios e negros. Depois veio a modernidade com seus avanços e progressivamente fomos
percebendo que o desenvolvimento tecno-industrial gerava novas explorações, desintegração
e poluições. Nascemos entre mangues & caranguejos em data comum como é próprio à filha
de mãe operária. No arquipélago dos lençóis maranhenses, está um pedaço de nossa memória
silvícola. Quando nosso pai-índio nos apresentou aos mangues, passamos a conhecer a poesia
sincrética dos povos ameríndios. De lá para cá, temos escritos alguns livros de poesia falando
sobre a memória dos manguezais. Esta pesquisa é um retalho acompanhando a trajetória de
poemas feitos a partir da bio-diversidade dos mangais: uma teia de sincretismo que faz
travessia pelas encruzilhadas dos diversos tipos de mangues. Seguimos o olhar dos poetas que
se emprenharam em falar dos povos do rio-mar. Esses poetas trazem no falar uma movência
híbrida do idioma popular. Do modernismo ao manguebeat, os pesquisadores do mangues têm
acordado para a questão da extinção desse tipo de ecossistema. Utilizamos a metáfora dos dias
para representar os capítulos e saímos com nosso barquinho inventado pelo mangue-serpente
de Raul Bopp, pelo mangue-prostíbulo de Oswald e Bandeira, pelas terras dos mangues de
Joaquim Cardozo, pelo mangue-cão de João Cabral, pelo mangue-caranguejo de Chico
Science. Não temos um olhar uno, mas múltiplo sobre esta pesquisa. Precisamos das diversas
raízes para nos estender a outros rizomas. Necessitamos muito trocar figurinhas e dialogar
com outras ciências e artes, como a oceanografia, a física quântica, a geografia, a biologia, a
matemática, a antropologia, a sociologia, a filosofia, a ecologia, o imaginário, a música
popular brasileira, o jazz, o samba, a tropicália, o rap, o hip hop, o blues, o rock n roll, o
funk, a música eletrônica, o coco, o caboclinho, o pastoril, o maracatu, o desenho animado, o
circo, o cinema, o teatro, a pintura, a fotografia, o virtual. Nossa linha de pesquisa segue as
entrelinhas comparadas. E nos orientamos e nos desorientamos entre Homens e caranguejos
[1967], de Josué de Castro | |