Tesis
Etnobiologia de cetáceos por pescadores artesanais da costa brasileira
Ethnobiology of cetaceans by artisanal Brazilian fishers
Registro en:
Autor
Souza, Shirley Pacheco de
Institución
Resumen
Orientador: Alpina Begossi Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Biologia Resumo: Este estudo registra e analisa o conhecimento ecológico dos pescadores artesanais da costa brasileira. O conhecimento dos pescadores é empírico, prático e contém registros em longo prazo sobre espécies e eventos ambientais, incluindo informações biológicas, ecológicas e culturais. Tendo a Ecologia Humana e a Etnobiologia como bases conceituais e metodológicas caracterizamos o conhecimento dos pescadores sobre a classificação, a nomenclatura e a ecologia dos cetáceos. Entrevistamos 171 pescadores artesanais de comunidades localizadas em Soure (Ilha do Marajó) na região norte, em Ponta Negra (Natal) na região nordeste, em São Sebastião (São Paulo) na região sudeste e em Pântano do Sul (Florianópolis) na região sul do Brasil. Os cetáceos fazem parte da megafauna impactada pela captura acidental na pesca. Cerca de metade das espécies existentes no Brasil está classificada pela Lista Vermelha da IUCN como espécies com dados insuficientes, devido à falta de informação sobre elas. Conforme os resultados desta pesquisa, os pescadores reconheceram 17 espécies de cetáceos e as agruparam em quatro etnogêneros e 37 etnoespécies. O conhecimento dos pescadores sobre as áreas de ocorrência, habitats preferenciais, sazonalidade, tamanhos de grupo e reprodução dos cetáceos forneceu informações para 16 espécies. O boto-cinza (Sotalia guianensis) e o golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) foram as espécies mais citadas nas quatro áreas. Os tópicos mais conhecidos foram áreas de ocorrência e tamanhos de grupo, e o menos conhecido foi reprodução. Em relação às interações entre cetáceos e atividades pesqueiras, as informações obtidas indicaram os seguintes tipos de interações: competição (com os peixes e os pescadores), cooperação (com os pescadores) e predação (sobre as espécies-alvo da pesca ou como presa para outros predadores de topo). As espécies mais comuns em cada área (S. guianensis, T. truncatus, Inia geoffrensis, Stenella clymene, Pontoporia blainvillei e Eubalaena australis) são as mais conhecidas e as mais mencionadas como principais competidores ou cooperadores. A captura acidental de cetáceos foi a interação mais citada. Os pescadores conhecem detalhes sobre os hábitos alimentares de alguns cetáceos, descrevendo 28 tipos diferentes de comportamentos alimentares e listando 48 espécies de peixes, moluscos e crustáceos como presas preferenciais. Fatores culturais e ambientais, tais como variações oceanográficas nas áreas de estudo e variações no uso de recursos influenciaram o conhecimento dos pescadores. Comparando as informações dos pescadores sobre as espécies mais comuns de cetáceos com aquelas contidas na literatura científica encontramos grande concordância em relação aos aspectos ecológicos e às interações com a pesca. Apenas para duas espécies (Stenella clymene e Inia geoffrensis) o conhecimento dos pescadores foi discordante da literatura. Estes casos de inconsistência entre os dois tipos de conhecimento podem refletir alguma falta de conhecimento dos pescadores sobre estas espécies ou, por outro lado, podem sugerir novas linhas de pesquisa. O conhecimento dos pescadores sobre as interações envolvendo cetáceos são úteis ao manejo das capturas acidentais, fornecendo informações sobre áreas críticas de captura e sugerindo locais e designs alternativos para as redes de espera. Sugerimos que este conhecimento seja considerado nas estratégias de manejo pesqueiro, já que pode contribuir para minimizar as interações negativas entre os cetáceos e a pesca Abstract: This study records and analyzes fishers' local ecological knowledge (LEK) on cetaceans in the Brazilian coast. Fishers' (LEK) is empirical, practical-oriented, embedded with long-term records on local species or environmental events, and includes important biological, ecological and cultural information. Choosing Human Ecology and Ethnobiology as methodological base and considering cultural and oceanographic variations in the studied areas, we present fishers' knowledge through Folk Taxonomy and Ethnoecology. We interviewed 171 fishers from communities situated in four areas in Brazil: Soure (at Marajó Island, northern coast), Ponta Negra (at Natal, northeastern coast), São Sebastião (at southeastern coast) and Pântano do Sul (at Florianópolis, southern coast). Cetaceans are among the megafauna impacted by bycatch in fisheries. Nearly half of the cetacean species occurring in Brazil are classified by the IUCN Red List as "data deficient" due to lack of information about them. We studied fishers' LEK on cetaceans' classification and nomenclature. Fishers recognized 17 cetacean species and included them in four folk genera and 37 folk species. We recorded fishers' knowledge on cetaceans' ecology. Fishers reported 112 occurrence areas, providing information on preferential habitats, seasonality patterns, group sizes and reproduction for cetacean species. The topics most known by the fishers are occurrence areas and group sizes, and the least known is reproduction. The Guiana dolphin (Sotalia guianensis) and the bottlenose dolphin (Tursiops truncatus) are the most cited species. Fishers' LEK on cetaceans' interactions with fisheries indicated the following kinds of interactions: competition (with local fish and fishers), cooperation (to the fishers), and predation (on fisheries' target species or as prey for other top predators). The most common species in each place (Sotalia guianensis, Tursiops truncatus, Inia geoffrensis, Stenella clymene, Pontoporia blainvillei and Eubalaena australis) are the most known by the fishers, and those mentioned as the main cooperators or competitors. As a result of these interactions some cetaceans are accidentally caught by gillnets used near the coast. Fishers know details about the feeding habits of some species, describing 28 different feeding behaviors and listing 48 species of fishes, mollusks and crustaceans as preferential prey. There were variations among fishers' LEK in the study areas, probably influenced by the level of communities' dependence on natural resources and by variations in oceanographic parameters. We compare fishers' knowledge on the most common species with the information in the scientific literature and we found great concordance in relation to cetaceans' occurrence areas, seasonality, group sizes, prey items and their interactions with fisheries except for two species (Stenella clymene and Inia geoffrensis), to which fishers' information was discordant. These cases of inconsistency between LEK and scientific literature could reflect the fishers' lack of knowledge on these species or, conversely, could suggest new lines of investigation. Fishers' knowledge on the cetaceans' feeding behavior and their interactions to fisheries can be helpful, through the indication of bycatch critical areas and alternative location for setting gillnets, as well as possible alterations in gillnets' designs. We suggest that fishers' knowledge should be considered in fisheries management plans, helping to minimize the negative interactions between cetaceans and fisheries Doutorado Ecologia Doutor em Ecologia