Tesis
Religião como tradução : missionarios, Tupi e "Tapuia" no Brasil colonial
Registro en:
(Broch.)
Autor
Pompa, Maria Cristina
Institución
Resumen
Orientador : John Manuel Monteiro Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciencias Humanas Resumo: Este trabalho traz uma análise histórico-antropológica do processo de encontro entre indígenas e missionários no Brasil colonial. A pesquisa visa reconstruir os percursos históricos específicos através dos quais horizontes culturais diferentes (a religião cristã ocidental, por um lado, e os sistemas mítico:-rituais indígenas, por outro) constituíram-se como instrumentos conceituais para construir o sentido do "outro", que a realidade colonial colocava como problema. Identificando as linhas essenciais da releitura e da rearticulação destes horizontes, a tese procura mostrar que o encontro entre a religião ocidental e o mundo simbólico indígena foi, mais do que a simples imposição da primeira e o cancelamento do segundo, um processo de tradução recíproca, em que os símbolos de um e de outro constituíram uma linguagem de mediação. O que se propõe é uma análise que compara dois momentos sucessivos deste encontro: o primeiro entre missionários, viajantes e índios tupinambá do litoral, no século XVI, e o segundo entre missionários e índios " tapuia" do sertão do nordeste, nos séculos XVII e XVIII. O primeiro momento tem como pano de fundo o contexto cultural do debate filosófico e religioso sobre a natureza dos selvagens e a possibilidade de sua catequese. O segundo momento envolve uma análise das fontes voltada para uma nova leitura da história do sertão e de seus habitantes. A comparação mostra diversos processos desencadeados pelo encontro: em primeiro lugar, o processo de construção da "religião dos selvagens", no século XVI, a partir da adaptação dos esquemas conceituais medievais e renascentistas, processo este que de alguma forma acabou influindo nas ciências sociais contemporâneas; em segundo lugar, as transformações internas ao projeto missionário, ao longo de dois séculos, em suas relações com os objetivos catequéticos, com a realidade política colonial e com grupos indígenas diferentes; em
terceiro lugar, as diferenças nas estratégias de sobrevivência cultural e física dos diversos grupos indígenas, abrangendo a recusa, a aceitação e a transformação da mensagem cristã a partirde seus próprios universos simbólicos Abstract: This thesis presents an historical-anthropological analysis of the encounter involving lndians and European missionaries in colonial Brazil. The text seeks to reconstruct specific historical trajectories through which distinct cultural horizons (Christianity, on the one hand, and the mythical and ritual universe of indigenous peoples, on the other) developed conceptual tools used in constructing a meaningful "other". In identifying key elements for rethinking these horizons, this thesis purports to show that the meeting between Westem religion and the symbolic universe of the Indians was far more than the simple imposition of the former or the total subversion of the latter; actually, it involved an intricate process of reciprocal translation, in which symbols fiom both traditions provided an idiom of mediation. Adopting a comparative focus, this work ana1yzestwo successive moments of this encounter: first, between missionaries, colonists, and Tupinambá lndians along the coast during the sixteenth century, and second between missionaries and "Tapuia" lndians in the northeastem sertão (backlands) during the seventeenth and eighteenth centuries. The first situation is discussed against the backdrop provided by the cultural context of the sixteenth-century philosophical and theological debate over the nature of the savages
and the prospects of their conversion to Christianity. The second situation requires a more elaborate analysis of documentary sources in order to reconstitute the littleknown history of the sertão and its inhabitants during this period. In each situation,
the encounter unleashed various processes. First of all, the sixteenth-century experience involved the construction of a "religion of the savages", based on the adaptation of medieval and renaissance conceptual schemes, which in fact have also
intluenced modern social science formulations. Second, missionary strategies and procedures underwent significant changes over the first two centuries, with respect to their goals regarding conversion, their relationship with broader colonial policies and
agents, and their relations with different indigenous societies. Third, indigenous groups themselves adopted different strategies for physical and cultural survival, which involved either refusing, accepting, or transforming the Christian message
based on resources derived from their own symbolic universe Doutorado Doutor em Antropologia Social