Tesis
Retorno à filologia e humanismo em Edward W. Said
Return to philology and humanism in Edward W. Said
Registro en:
SANTOS, Lucas de Jesus. Retorno à filologia e humanismo em Edward W. Said. 2016. 1 recurso online ( 173 p.). Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, Campinas, SP.
Autor
Santos, Lucas de Jesus, 1990-
Institución
Resumen
Orientador: Eduardo Sterzi de Carvalho Júnior Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem Resumo: Esta pesquisa trata do humanismo e da proposta de retorno à filologia de Edward W. Said. Segmentamos a pesquisa em três etapas: primeiro, a abordagem da noção saidiana de Mundanidade, segundo a qual textos, autores, instituições seculares fazem parte de uma esfera mundana, que produz e é constituída através das expressões textuais humanas. Para traçar os contornos do conceito, investimos em uma triangulação entre o intelectual palestino-americano, Giambattista Vico e Erich Auerbach, argumentando que eles formam como que um campo mundano de reflexão, possibilitando Said endereçar os problemas e apontar alternativas para seu tratamento da Filologia e do Humanismo. A Mundanidade funciona, para Said, como uma espécie de ontologia do mundo secular e, sobretudo, como a condição decisiva para a ação ética. Em um segundo momento, abordamos mais especificamente o tema de Filologia em Said. A partir da crítica de concepções racistas e religiosas da Filologia e de sua influência na constituição dos Estudos Literários, argumentamos que Said vê a Filologia como uma ética de leitura, uma forma de intervenção na arena secular da textualidade humana. Nesse sentido, propomos a existência de duas dimensões éticas relacionadas à Filologia, uma ética oposicional e uma ética possibilista: a primeira diz respeito ao vetor de resistência que envolve toda interpretaçao; a segunda se refere à capacidade da leitura de constuir novas relações intertextuais, interinstitucionais e políticas, sem apelar para a fixação de métodos ou formas reproduzíveis de interpretação. Em terceiro lugar, nos detemos sobre o tema do Humanismo. Abordamos o humanismo em perspectiva histórica, acentuando seu surgimento simultâneo à empresa colonialista na Europa, demonstrando o compartilhamento de pressupostos onto-epistemológicos entre Humanismo e Colonialismo, e como ambos sistemas de pensamento forjaram uma imagem fixa do humano universal. Em seguida, tratamos da crítica de Frantz Fanon a esse entrelaçamento, devido ao fato de seus argumentos haverem sido de suma importância para a visão renovada de Said sobre o Humanismo. Ao mostrar essas discussões entorno do tema, discorremos sobre o modo como a imagem universal de humano foi herdada pelo sistema educacional superior americano, e como as discussões sobre o currículo das Humanidades foram marcadas por injunções de pureza da figura humana. Finalmente, argumentamos que o Humanismo advogado por Said é, ao contrário do anterior, aberto às transformações sociais, culturais, políticas e sensível às demandas dos povos e populações que começaram cada vez mais fortemente a exigir seus direitos e a marcar sua presença no cenário político-cultural. Nesse sentido, defendemos que o Humanismo de Said tem um sentido cosmopolita, mas que não se basea nas ideias de pertencimento e fixidez requerida pelo cosmopolitismo iluminista. O humanismo cosmopolita de Said é exílico e em constante deslocamento, não permitindo qualquer forma de estabilidade limitadora ou síntese apaziguadora. Por fim, concluímos por propor um alargamento das possibilidades do Humanismo e da Filologia na contemporaneidade, por fazê-los encarar o problema do Antropoceno e das mudanças climáticas terrestres. Acreditamos que, na esteira do que Said propunha para qualquer forma de expressão acadêmica, é imprescindível pensá-los sob as novas configurações de humanidade e mundo que advêm contemporaneamente Abstract: This research deals with humanism and the proposal of return to Philology of Edward W. Said. We chose to segment the research in three stages: first, the approach of the saidian notion of Worldliness, according to which texts, authors, secular institutions are part of a mundane sphere, which produces and is made through human textual expressions. In order to trace the contours of the concept, it is invested in a triangulation between the Palestinian-American intellectual, Giambattista Vico and Erich Auerbach, arguing that they form a mundanelike field of reflection, enabling Said to address the problems and alternative solutions for his treatment of Philology and Humanism. The Worldliness works, for Said, as a kind of ontology of the secular world and above all as the decisive condition for ethical action. In a second stage, we address more specifically the issue of Philology. Starting from the critique of racist and religious conceptions of Philology and its influence on the formation of Literary Studies, we argue that Said saw Philology as an ethics of reading, a form of intervention in the secular arena of human textuality. In this sense, we propose the existence of two ethical dimensions related to Philology: an oppositional ethics and an enabling ethics: the first one concerns a resistance vector involving all interpretation; the second refers to the ability of reading to build new intertextual, inter-institutional and political relations, without resorting to the methods of fixing or reproducible forms of interpretation. Third, it is attended the theme of Humanism. Humanism is approached in a historical perspective, accentuating its simultaneous emergence with the colonialist enterprise of Europe, demonstrating the sharing of onto-epistemological assumptions between Humanism and Colonialism, and how both systems of thought forged a fixed image of an universal human. Then it is dealt with the critique of Frantz Fanon to this intertwining, due to the fact that his arguments have been of substantial importance to the renewed vision of Said on Humanism. By approaching these discussions about this issue, it is discussed how the universal human image was inherited by the American higher education system, and how the discussions on the humanities curriculum were marked by purity injunctions of the human figure. Finally, it is argued that the Humanism pleaded by Said is, unlike the previous one, open to social, cultural, and political changings and sensitive to the demands of the peoples and populations that began increasingly strongly to demand their rights and to mark their presence in the political and cultural scene. In this sense, we argue that Said's Humanism has a cosmopolitan sense, but not on a base of ideas of belonging and fixity required by illuminist cosmopolitanism. The cosmopolitan humanism of Said is exilic and in constant shifting, not allowing any form of limiting stability or placating synthesis. Finally, we conclude by proposing an enlargement of the possibilities of Humanism and Philology in contemporaneity, by making them face the problem of the Anthropocene and terrestrial climate change. We believe that, as Said proposed to any form of academic expression, it is essential to think of them under the new settings of humanity and worldness that come contemporaneously Mestrado Historia e Historiografia Literaria Mestre em Teoria e História Literária 2014/04757-1 FAPESP CAPES