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Violência e sagrado: o que no criminoso anuncia o santo?
Fecha
2000-09Registro en:
FREITAS, Eliane Tania Martins de. Violência e sagrado: o que no criminoso anuncia o santo? Ciências Sociais e Religião, Porto Alegre, ano 2, n. 2, p. 191-203, 2000.
1982-2650
Autor
Freitas, Eliane Tania Martins de
Resumen
Este artigo apresenta um exame preliminar de dois cultos religiosos
populares que ocorrem atualmente no Nordeste do Brasil. Em dois
cemitérios, no Rio Grande do Norte, o cangaceiro Jararaca e o ladrão
homicida Baracho (espécie de ‘serial killer’, conhecido como ‘matador de
motoristas’), são objetos de devoção religiosa por parte de crentes que
afirmam ter alcançado milagres por seu intermédio ou que acreditam que
virão a alcançá-los por meio de promessas que então, à beira de seus
túmulos, não hesitam em fazer. A fé em seus milagres convive com a
memória dos feitos dos bandidos que foram em vida, narrados com um
misto de admiração e reprovação moral. O tradicional modelo do bandido
social, que rouba para dar aos pobres, vem então em seu socorro, de
modo a permitir uma continuidade entre o passado criminoso e o presente
‘santificado’. Dentre os fatores centrais nesse processo de ‘santificação’
do bandido, segundo o discurso dos entrevistados, estão a morte violenta
e o sofrimento físico e moral a ela associados. O quadro esboçado aqui
mostra-nos que se trata de santos muito especiais, isto é, santos precários,
posto que sua santidade é objeto de constante controvérsia e contestação
mesmo por aqueles que acreditam em seu poder de operar milagres. E
parece ser mesmo isso o que os torna tão interessantes, mesmo do ponto
de vista dos seus adeptos.