Tesis
Concordância verbal no português brasileiro em textos de alunos da EJA : questões sobre a gramática do letrado com base em análise de corpus
Fecha
2018-08-28Registro en:
ZANDOMÊNICO, Stefania Caetano Martins de Rezende. Concordância verbal no português brasileiro em textos de alunos da EJA: questões sobre a gramática do letrado com base em análise de corpus. 2018. 190 f., il. Tese (Doutorado em Linguística)—Universidade de Brasília, Brasília, 2018.
Autor
Zandomênico, Stefania Caetano Martins de Rezende
Institución
Resumen
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino da Educação Básica que atende jovens e adultos que não frequentaram a escola regularmente na infância. Embora no Brasil o número de indivíduos que se enquadram no público-alvo da EJA seja muito expressivo – em 2014, mais de 62 milhões de brasileiros com 25 anos ou mais não haviam concluído o Ensino Médio –, essa modalidade de ensino não tem recebido a devida atenção nem no âmbito das políticas públicas de ensino nem no âmbito das pesquisas acadêmicas. Dados esses fatos, este trabalho teve duplo objetivo: analisar a manifestação da concordância verbal em textos escritos da EJA, comparando-a com a encontrada em estudos sociolinguistas (Naro, 1981; Graciosa, 1991; Scherre & Naro, 1998; Scherre, Naro & Cardoso, 2007; Berlinck et al., 2009 e Vieira, 2011), e relacionar os resultados desta análise com os pressupostos do gerativismo e a hipótese da gramática do letrado, conforme Roeper (1999) e Kato (2005). Para analisar a manifestação da concordância verbal em textos escritos da EJA, coletamos e analisamos 1.330 dados de um conjunto de 240 redações do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) do ano de 2013 produzidas por alunos da EJA e por alunos do ensino regular, e posteriormente os submetemos à análise quantitativa por meio do programa estatístico GoldvarbX. Comparamos os resultados encontrados entre as duas amostras consideradas (EJA e ensino regular) e também com os resultados dos estudos variacionistas prévios, os quais se dedicaram a investigar, majoritariamente, dados de fala do Português Brasileiro (PB). Para relacionar os resultados desta análise com os pressupostos do gerativismo e a hipótese da gramática do letrado, contrastamos duas abordagens gerativistas distintas. Na primeira delas, proposta por Roeper (1999), todo falante seria potencialmente bilíngue e as variações apresentadas na língua constituiriam gramáticas distintas, de forma que o falante poderia dispor, ao mesmo tempo, de uma série de minigramáticas. Nessa abordagem, chamada de teoria do bilinguismo universal, o acesso à Gramática Universal (GU) no processo de aquisição de uma nova gramática seria total. Na segunda abordagem, proposta por Kato (2005), a aquisição da escrita se daria de forma semelhante à aquisição de uma segunda língua (L2), via a primeira gramática da língua – no caso do PB, a gramática da língua falada (L1). Nesse caso, o acesso à GU seria indireto, de forma que a morfossintaxe aprendida na escola não teria estatuto gramatical, e sim estilístico. Constatamos que os alunos da EJA apresentaram, na escrita, com relação à manifestação da concordância verbal, frequência de marcas explícitas muito semelhante à dos alunos do ensino regular. Verificamos, ainda, que as variáveis que se mostraram relevantes na escrita da EJA, no domínio analisado, eram semelhantes não só às da escrita do ensino regular, como também às da fala. Os resultados encontrados nesta pesquisa, portanto, confirmaram, na escrita, o que estudos prévios variacionistas já atestavam sobre a fala. Por essas razões, e pelo fato de escrita da EJA ter se revelado um sistema perfeito e regular, consideramos que, pelo menos no que diz respeito à concordância verbal, a abordagem teórica que melhor se aplica ao processo de aquisição da escrita por alunos da EJA é a teoria do bilinguismo universal, com acesso total à GU.