Tesis
Saúde e trabalho em mulheres adultas : estudo de base populacional no município de Campinas, São Paulo
Health and work in adult women : population-based study in Campinas, Sao Paulo
Registro en:
Autor
Senicato, Caroline, 1985-
Institución
Resumen
Orientador: Marilisa Berti de Azevedo Barros Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas Resumo: As mudanças econômicas, políticas e sociais ocorridas nas últimas décadas proporcionaram a ampliação da escolaridade feminina e o aumento progressivo da participação da mulher no mercado de trabalho. Hoje, aproximadamente 55% das brasileiras com 16 anos ou mais são economicamente ativas. Todavia, as mulheres continuam a ter um papel central no núcleo familiar, nos cuidados com os filhos e com toda a família, bem como no desempenho das atividades domésticas, independente do fato de exercerem um trabalho remunerado. Neste contexto, indaga-se sobre as possíveis associações entre a inserção no mercado de trabalho e as condições de saúde das mulheres. Revisões internacionais de estudos longitudinais que analisaram os efeitos do emprego sobre a saúde e o bem-estar feminino verificaram que, no geral, o trabalho remunerado não produz efeitos adversos para a saúde da mulher. Contudo, são poucos os estudos brasileiros dedicados a essa temática. Diante dessas considerações, o objetivo deste estudo foi analisar as condições de saúde, os comportamentos relacionados à saúde e a qualidade de vida relacionada à saúde de trabalhadoras remuneradas e de donas de casa, residentes na área urbana do município de Campinas, São Paulo. Foram utilizados dados do Inquérito domiciliar de Saúde do Município de Campinas (ISACamp 2008/2009), realizado pelo Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde (CCAS), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Trata-se de um estudo transversal de base populacional, com amostra probabilística por conglomerados, tomada em dois estágios: setores censitários e domicílios. Os dados analisados foram de 668 mulheres de 18 a 64 anos de idade, residentes da área urbana do município de Campinas, e as análises foram realizadas no software Stata 11.0, com o comando svy, que considera os efeitos do delineamento complexo do processo amostral do inquérito. Os resultados desta tese são apresentados em três artigos. No primeiro estudo, "Diferenciais de saúde entre trabalhadoras remuneradas e donas de casa em um município brasileiro", foram avaliadas as diferenças em relação aos comportamentos relacionados à saúde e às condições de saúde entre trabalhadoras remuneradas e donas de casa. Foram feitos modelos de regressão múltipla de Poisson, com ajuste por idade, escolaridade, número de filhos, situação conjugal e renda familiar per capita, para estimar as razões de prevalências ajustadas. Foi possível observar diferenças em relação à saúde mental de mulheres, mas ausência de desigualdades nos comportamentos. As donas de casa apresentaram maior prevalência de queixas de problemas emocionais (ansiedade/tristeza) e de transtorno mental comum (avaliado pelo SRQ-20), que ficou no limiar da significância estatística, mas menor prevalência de asma/bronquite/enfisema e de relato de violência (limiar da signficância estatística). O segundo artigo, "Ser trabalhadora remunerada ou dona de casa associa-se à qualidade de vida relacionada à saúde (SF-36)?", avaliou a qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) e a inserção no mercado de trabalho, e se pertencer a determinado estrato socioeconômico modifica essa associação. A QVRS foi avaliada pelo instrumento The Medical Outcomes Study Instrument SF-36 ¿ Item Short Form Health Survey (SF-36). Foram feitos modelos de regressão linear simples e múltipla, com ajuste pela idade, escolaridade, renda familiar per capita, situação conjugal, número de filhos e número de doenças crônicas. Ser dona de casa associou-se com a pior QVRS, sobretudo com aspectos mentais, mas esta associação é modificada pelo nível socioeconômico. Nos segmentos de intermediária e baixa escolaridade e de renda familiar per capita as donas de casa apresentaram pior QVRS, mas não houve diferenças no alto estrato de escolaridade e de renda familiar. No terceiro artigo, "Saúde mental de mulheres adultas: estudo de base populacional no município de Campinas, São Paulo", analisou a associação dos transtornos mentais comuns (TMC) com a inserção no mercado de trabalho e com outras variáveis socioeconômicas e demográficas, de comportamentos e de saúde em mulheres adultas, por meio do Self Reporting Questionnaire 20 (SRQ-20). Foi criado um modelo hierárquico de regressão de Poisson em três etapas: variáveis socioeconômicas e demográficas, comportamentos e condições de saúde. As mulheres que eram donas de casa, aquelas com baixa escolaridade, sem companheiro e com três ou mais filhos apresentaram maior prevalência de TMC, bem como as mulheres com pior qualidade da dieta (não consumiam frutas, verduras ou legumes diariamente), que dormiam seis ou menos horas por noite, e relataram uma ou mais doenças crônicas, quatro ou mais problemas de saúde e que tinham sido vítimas de violência. Este estudo constatou que o trabalho remunerado esteve associado positivamente à saúde da mulher, principalmente, à saúde mental feminina. Contudo, não podemos desconsiderar o "efeito do trabalhador sadio": há maior probabilidade das mulheres saudáveis física e mentalmente estarem empregadas e se manterem trabalhando. Entretanto, a discussão dos presentes resultados com estudos longitudinais colabora para dar maior sustentação aos achados. As desigualdades na QVRS segundo inserção no mercado de trabalho, sobretudo quanto aos aspectos mentais, com prejuízos principalmente das donas de casa de pior nível socioeconômico, reforçam a necessidade de gerar mais oportunidades para a inserção da mulher no mercado de trabalho e acesso à educação. Ser dona de casa, ter baixa escolaridade, não ter companheiro e ter três ou mais filho, além de acumular doenças, ter comportamentos inadequados e ter sofrido violência foram fatores associados à presença de transtornos mentais comuns nas mulheres adultas. Portanto, espera-se que esses achados sobre as condições de saúde de trabalhadoras remuneradas e donas de casa possam colaborar no desenvolvimento de políticas públicas sociais e de saúde. Além de macro-políticas que ofereçam acesso à escolarização e condições para a inserção feminina no mercado de trabalho, como a criação de creches para que a mulher possa conciliar trabalho e família, é preciso capacitar os profissionais da atenção básica, como o médico da família, ginecologistas e demais profissionais da equipe de saúde na detecção e abordagem dos quadros de comprometimento da saúde mental feminina, sobretudo entre as mulheres donas de casa socialmente desfavorecidas Abstract: Economic, political and social changes in recent decades have provided the expansion of female schooling and the increase of women's participation in the labor market. Today, approximately 55% of Brazilian women with 16 years old or over are economically active. However, women continue to have a central role within the family, especially with regard to the care of the children and the whole family as well as the performance of domestic activities, regardless of whether exercising a paid activity. In this context, we do not know about the possible associations between the insertion in the labor market and the health conditions of women. International review of longitudinal studies examining the effects of employment on health and women's well-being, found that usually the occupation does not produce adverse effects on women¿s health. However, there are few Brazilian studies about this subject. About these considerations, the aim of this study is to analyze the health, behavior and health-related quality of life among adult women, according to the insertion in the labor market comparing paid workers women and housewives. Health of household survey data was used in Campinas (ISACamp 2008/2009), conducted by the Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde (CCAS), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). It is a cross-sectional population-based study with a random sample by conglomerates, in two stages: census tracts and households. Data were 668 women with 18-64 years old, living in the urban area of the city of Campinas, and were analyzed using Stata 11.0 software, with svy command, which considers in analyzing the effects of the complex sample design of the survey process. The results of this thesis are presented in three articles. In the first study, "Health differentials between paid workers women and housewives in a Brazilian City" were evaluated differences in relation to health conditions and health-related behaviors among working paid and housewives. Associations between variables the chi-square test were estimated. Multiple regression model Poisson, with adjustment for age, education, number of children, marital status and household income per capita, was used to estimate adjusted prevalence ratios. We observed differences in health status, but no inequalities in behavior. Housewives had a higher prevalence of emotional issue of complaints (anxiety/sadness) and common mental disorders (estimated by the SRQ-20), the threshold of statistical significance, and lower prevalence asthma/bronchitis/emphysema and reporting violence (threshold of statistical significance). The second article, "Is there association between paid worker woman or housewife and health-related quality of life (SF-36)", assessed the quality of life related to health (HRQOL) in accordance with the inclusion in the labor market, and belonging to particular socioeconomic changes this association. The HRQOL was assessed by the instrument The Medical Outcomes Study SF-36 - Item Short Form Health Survey (SF-36). Simple and multiple linear regression models were made, adjusted by age, education, family income, marital status, number of children and number of chronic diseases. Being a housewife was associated with worse HRQOL, especially with mental aspects, but this association was modified by socioeconomic level. In the segments of intermediate and low level of education and per capita income housewives had a poorer HRQOL, but there were no differences at the higher level of education and family income per capita. In the third article, "Mental health of adult women: population-based study in Campinas, Sao Paulo", examined the association of common mental disorders (CMD) and insertion in the labor market and other socioeconomic and demographic varibles, behavioral and health, in adult women through the Self Reporting Questionnaire 20 (SRQ-20). A hierarchical Poisson regression model was created in three steps: socioeconomic and demographic variables, health conditions and behaviors. Women who had not paid occupation, those with low level of schooling, unmarried and with three or more children had higher prevalence of CMD and women who reported one or more chronic diseases, four or more health problems and who had been victims of violence, as well as those with poor diet quality (did not consume fruits, vegetables or vegetables daily) and who slept six or fewer hours per night. This study found that paid work was positively associated to women's health, especially to women's mental health. However, we can not disregard the "healthy worker effect": is most likely of physical and mentally healthy women are employed and keep working. However, the discussion of the present results with longitudinal study contributes to give greater support to the findings. Inequalities in HRQOL according to insertion in the labor market, especially as the mental aspects, with losses mainly housewives of worse level of schooling, reinforce the need to create more opportunities for the inclusion of women in the labor market and access to education. Housewives, low education, not having a partner and have three or more children in addition to the accumulation of diseases, inappropriate behavior and reporting of violence were factors associated with the presence of common mental disorders in adult women. Therefore, it is expected that the findings about the health conditions of working women and housewives can assist in developing social policies and health. In addition to macro-policies that provide access to education and conditions for insertion in the job market, such as the creation of kindergartens so that women can reconcile work and family, we need to upgrade the skills of primary care, such as family doctor, gynecologists and other professionals health staff in detecting and addressing women's mental health commitment boards, especially among housewives socially disadvantaged Doutorado Epidemiologia Doutora em Saúde Coletiva 2012/07039-7 FAPESP