Livro
O que quer, o que pode esta l?ngua: perspectivas para o ensino de l?ngua portuguesa
Autor
Henrique, Ana L?cia Sarmento
Pereira, Francisca Elisa de Lima
Cavalcante, Ilane Ferreira
Silveira, Mar?lia Gon?alves Borges
Resumen
A l?ngua ? um instrumento de prazer. Por vezes doce, por vezes amarga. Para usar e abusar. Para aceitar e para recusar. Para dizer. Para amar. Para mentir. Para lutar. Para viver. A l?ngua pode ser meiga, suave, quente, quando transformada em verso pelos amantes, e fria, quando feita express?o burocr?tica da lei. O bem e o mal. O branco e o preto e o mulato, a gente de todos os lugares onde quem fala se entende na voz dos av?s. A l?ngua ? a p?tria, a ?nica p?tria poss?vel da gente de
parte incerta. Aldeia e bairro e p?tria de emo??es, de sentidos, das palavras que fazem a fala que d? cor ? l?ngua. P?tria nossa, de Drummond e Rosal?a, de Ruy Belo e Lara Filho, de Cabral e de Mondlane. L?ngua p?tria, l?ngua pr?tica. ? a l?ngua que nos une, mas ? a palavra que nos ata. Em Lisboa e em Luanda. Em Dil? e em Maputo. Em Finisterra e nas ilhas de S?o Tom?. A nossa l?ngua ? sempre a mesma, sendo sempre outra. L?ngua, lugar, sabor, saber. L?ngua com cheiro a
rosmaninho. L?ngua que sabe a tamarindo. L?ngua molhada da chuva e do mar.A l?ngua tem dentro a m?sica que lhe pertence. Gaitas do Ferrol e bombos de Lavacolhos. Tambores tribais e cu?cas solit?rias. Dan?as de roda e mornas dolentes. Chulas e viras, sambas e forr?s. E vozes. E outra vez palavras. De Zeca e de Ces?ria, de Fausto e de Chico, de Ux?a e de Beth?nia. Palavras bem ditas, palavras benditas, palavras malditas. Palavras simples, como p?o, enxada, labor, falar. Palavras proibidas, como o medo. Palavras imaginadas, como a liberdade. Palavras inventadas, como nos sonhos. Palavras duras, como m?goa, ex?lio, morte, adeus. Outras palavras. Palavras que ficam por dizer. Palavras como l?grimas, palavras loucas. Orelhas moucas, palavras ocas. Bocas. Segredos sussurrados, desejos confessados. Degredos e paix?es. Cartas de amor rid?culas, como manda o poeta. Boca a boca. E a l?ngua, l? dentro, a querer dizer mais, a querer dizer tudo. Palavra puxa palavra. Palavr?rio. Palavrada. Palavr?o. Chi?a, porra, barda, merda, gaita. Em poucas palavras. Palavra de honra. Palavra m?gica. Abracadabra. E a voz, cheia de palavras, porque as palavras s?o a parte interior da voz que as formata. A l?ngua ? a alma das palavras que a voz revela. Palavras avarentas, l?nguas sedentas, vozes atentas. Tenho a palavra, mas n?o tenho palavras. A l?ngua ? a palavra-chave. L?ngua materna. L?ngua de fogo, l?ngua de areia. L?ngua de trapos, linguado,
lingueir?o, lingui?a. Lingueta, linguarudo, l?ngua de palmo. A linguagem linguopalatal do linguista ser? verdadeiro linguajar? N?o me puxem pela l?ngua.