Dissertação
Memória e encenação no filme de família
Autor
Santos, Ana Clara Campos dos
Institución
Resumen
The general objective of this dissertation is to examine how people used to film and appear in family films in the 1970s, when it was not as easy as today to record private life. The literature review covers studies on memory and private life, with authors such as Paul Thompson, Philippe Ariès and Anne Martin-Fugier, about home movies, whose authors are Roger Odin, Elizabeth Czach and Thaís Blank, and about mise-en-scène, based on the concepts of Jean-Louis Comolli, Jacques Aumont and Fernão Pessoa Ramos. One of the methodologies used were oral history interviews with two moviemakers: a photographer (Márcio Assis) and a public servant who is retired (Eliana Tolentino), pointing to similarities and differences between two people with distinct trajectories and filming styles. After a careful observation to their movies, we are able to define the family filmmaker as a participant camera: he/she is a subject who is a secondary character of the filmed action and records the events in a testimonial way, from his/her own point of view; sometimes he/she does not intend to interfere in what is happening, sometimes he/she acts as a "director" and demands interpellation from characters. In order to study self-mise-en-scène in home movies, we selected about two hours of digitized Super 8 home movies that make up our corpus. The film analysis was made, mainly, based on concepts defined by Carlos Gerbase about framing, camera movements, etc. With this study, seven categories of self-mise-en-scène were created: photographic (immobile character), normal (apparently does not perceive a camera), simulated, elusive (tries to hide from the camera) and spectacular (performance made apparently for the camera). This research intends to collaborate, especially, with studies on family films – which are scarce in Brazil - and on self-mise-en-scène in cinema. O objetivo geral desta dissertação é analisar de que maneira as pessoas costumavam filmar e aparecer em filmes de família na década de 1970, período em que não havia tanta facilidade, como hoje, em registrar a vida privada. A pesquisa bibliográfica abrange estudos sobre memória e vida privada, com autores como Paul Thompson, Philippe Ariès e Anne MartinFugier, acerca do filme de família, cujos principais autores que utilizamos são Roger Odin, Elizabeth Czach e Thaís Blank, e sobre mise-en-scène, com base nos conceitos de Jean-Louis Comolli, Jacques Aumont e Fernão Pessoa Ramos. Uma das metodologias utilizadas foi a das entrevistas de história oral, feita com dois cinegrafistas: um fotógrafo (Márcio Assis) e uma funcionária pública aposentada (Eliana Tolentino), apontando-se as semelhanças e diferenças entre duas pessoas com trajetórias e estilos de filmagem distintos. Após observação atenta de seus filmes, podemos definir o realizador de filmes de família como cinegrafista participante: trata-se de um sujeito que é personagem secundário da ação filmada e registra os eventos de forma testemunhal, a partir de seu próprio ponto de vista; por vezes, não tem a intenção de interferir no que está acontecendo, por outras, age como “diretor” e demanda a interpelação dos personagens. Para estudar a encenação de si (auto-mise-en-scène) no filme doméstico, foram selecionadas cerca de duas horas de filmes domésticos em Super 8 digitalizados que compõem nosso corpus. A análise fílmica foi feita, principalmente, com base em conceitos definidos por Carlos Gerbase sobre enquadramentos, movimentações da câmera, etc. Com este estudo, foram criadas sete categorias de encenação das personagens: fotográfica (personagem imóvel), normal (aparentemente não percebe a câmera), simulada (sabe da filmagem, mas age “naturalmente”), esquiva (tenta se esconder da câmera), encabulada (demonstra vergonha ao ser filmado), gestual (personagem faz um gesto para a câmera) e espetacular (atuação feita aparentemente em função da câmera). Com esta investigação pretende-se colaborar, especialmente, com os estudos sobre filmes de família – escassos no Brasil – e sobre a auto-mise-en-scène no cinema.