Tese
Prevalência de depressão e fatores associados em mulheres atendidas pela Estratégia de Saúde da Família
Autor
Gonçalves, Angela Maria Corrêa
Institución
Resumen
Introduction: Clinical depression is one of the major public health problems facing our society today. According to the Ministry of Health, there are more than 10 million people suffering from depression in Brazil. Incidence rates were higher among people aged 20 to 40 years old, just at the peak of professional career. Women are the most vulnerable and the number of cases is twice as high as compared to men.
Objective: to evaluate the prevalence of depression and associated factors among women aged 20 to 59 years including areas covered by Family Health Strategy at a city in Zona da Mata Mineira; to analyse the illness experience among women aged 20 to 59 assisted in primary care and evaluated with depression according to PHQ-9.
Methods: A cross-sectional study with women aged 20 to 59 enrolled in two Family Health Units, using a questionnaire containing sociodemographic variables, social support, self-reported health status, lifestyle, morbidity and women's health. The depression diagnosis was assessed according to the PHQ-9, considering as positive women scoring ≥ 10 points. In order to analyse the associated factors, crude and adjusted prevalence ratios were calculated using robust Poisson regression. To analyze illness experience, women who scored positively on PHQ-9 were interviewed by psychiatrists using the CIS-R (Revised Clinical Interview Schedule), an instrument which has been used as a reference standard in studies of common mental disorders. Women with a positive diagnosis for depression were identified and there were others with symptoms of sadness, but were not diagnosed with clinical depression. For this group of women McGill Illness Narrative Interview questionnaire (MINI) was applied and content analysis of the material was performed.
Results: Considering 1,958 women included in this analysis, 28.5% were aged 30 to 39 years; 15.4% had not finished elementary school; 54.5% were not employed or have never worked and 44.2% declared themselves not White. The prevalence of depression was 19.7% and the associated factors were: low level of education, currently employed, and with previous diagnosis of mental disorder. The factors associated with the depression in the investigated population were: low level of education, currently employed and with previous diagnosis of mental disorder. Among the protection factors, there are: be married or live with a partner, perform physical activities regularly and report positive health self-assessment. Qualitative analysis revealed that women with depression do not pay much attention to her appointments due to a sense of inability, prostration, demotivation which prevents her from overcoming inertia and take on daily routine. Death is seen as a relief and the only possible solution to end suffering. Spirituality and religiosity have played a crucial role in order to relieve suffering, being important factors to promote a change in life and rehabilitation.
Conclusion: The outcomes have shown that a specific assistance in primary health care should be delivered to women, especially to those with low levels of education, those who are employed and do not practice exercise, in order to reduce suffering and promote health. It was also highlighted that lack of meaning in life appears normal to the extent that it prevents women from searching treatment for the disease. There is a clear gap in the use of screening instruments for cases of depression in primary care. Health professionals must be trained so they may correctly make the diagnosis of mental disorders, especially to distinguish depression and sadness, avoiding medicalization and stigmatization. It is crucial to improve healthcare network, recognizing how important it is to sharply articulate primary health care and specific policies/actions directed to mental health field Introdução: A depressão clínica é um dos principais problemas de saúde pública na atualidade. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, são mais de 10 milhões de pessoas que sofrem com depressão. A incidência maior da doença se dá entre os 20 e os 40 anos, justamente no auge da vida profissional. As mulheres são as mais vulneráveis ao problema, sendo que o número de casos é o dobro dos homens.
Objetivo: Avaliar a prevalência de depressão e os fatores associados em mulheres de 20 a 59 anos de áreas cobertas pela Estratégia de Saúde da Família de município da Zona da Mata Mineira; analisar a experiência de adoecimento de mulheres de 20 a 59 anos atendidas na atenção primária, avaliadas com depressão segundo o PHQ-9.
Métodos: Trata-se de um estudo transversal, com mulheres de 20 a 59 anos, cadastradas em duas Unidades de Saúde da Família, que utilizou um questionário contendo variáveis sociodemográficas, apoio social, autoavaliação de estado de saúde, estilo de vida, morbidade e saúde da mulher. O desfecho depressão foi avaliado segundo o PHQ-9, considerando como positivas as mulheres que obtiveram um score ≥ 10 pontos. Para a análise dos fatores associados, foram calculadas as razões de prevalência brutas e ajustadas, por meio de regressão robusta de Poisson. Para a análise da experiência de adoecimento, as mulheres que pontuaram positivamente no PHQ-9 passaram por uma entrevista com médicos psiquiatras que utilizaram como instrumento o CIS-R (Clinical Interview Schedule - Revised), instrumento que tem sido utilizado como padrão de referência em estudos de transtornos mentais comuns. Foram então identificadas mulheres com diagnóstico positivo para depressão e outras em que o afeto de tristeza estava presente, mas que não caracterizavam depressão clinica. Para o conjunto destas mulheres, foi aplicado o questionário McGillIllness Narrative Interview (MINI) e realizada análise de conteúdo deste material.
Resultados: Das 1.958 mulheres incluídas nesta análise, 28,5% encontravam-se na faixa etária entre 30 e 39 anos; 15,4% não haviam concluído o ensino elementar; 54,5% não trabalhavam ou nunca trabalharam; e 44,2% declararam não ser da raça branca. A prevalência de depressão encontrada foi de 19,7%, e os fatores associados foram: possuir baixa escolaridade, trabalhar atualmente e ter doença mental prévia. Os fatores associados à ocorrência de depressão na população estudada foram: possuir baixa escolaridade, trabalhar atualmente e ter doença mental prévia. Como fatores de proteção, observaram-se: ser casada ou viver com companheiro, realizar atividades físicas regularmente e relatar autoavaliação positiva de saúde. A análise qualitativa revelou que as mulheres com depressão se tornam descuidadas de seus compromissos devido a um sentimento de incapacidade, prostração, desmotivação, que não lhes permite sair da inércia e assumir a rotina da vida cotidiana. A morte aparece, para algumas, como um alívio e única solução possível para o término do sofrimento. A espiritualidade e a religiosidade contribuíram para amenizar o sofrimento, sendo importantes para a mudança de vida e para a reabilitação.
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Conclusão: Os resultados revelam que uma assistência específica na atenção primária à saúde deve ser dada às mulheres, especialmente àquelas com baixa escolaridade, que trabalham, apresentam doença mental e não praticam exercícios físicos, a fim de reduzir o sofrimento e promover a saúde. Foi também evidenciado que a falta de sentido na vida torna-se algo aparentemente normal, a ponto de não motivar a procura de ajuda para tratar a doença. Ressalta-se a lacuna na utilização de instrumentos de rastreamento dos casos de depressão na atenção primária. É preciso que os profissionais sejam capacitados para diagnosticar corretamente os transtornos mentais, visando especialmente discriminar depressão e tristeza, evitando a medicalização e a estigmatização. É importante fortalecer a rede assistencial, reconhecendo a necessidade de articular, de forma incisiva, a atenção primária à saúde e as políticas/ações específicas da área da saúde mental. CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior FAPEMIG - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais