Com o crescimento de novas configurações identitárias através das mídias sociais e do entretenimento, se fez necessário à psicanálise adentrar no debate acadêmico sobre as possíveis influências que essa exposição pode ter na formação da identidade das crianças e jovens. Na clínica, é comum que pacientes jovens baseiem suas conclusões sobre seus problemas de identidade em noções preconcebidas extraídas das configurações de identidade dominantes às quais foram expostos, embora incapazes de fornecer quaisquer experiências pessoais e singulares para apoiar tais conclusões quando buscam ajuda de seus analistas. Para tanto, este estudo teve por objetivos analisar as consequências destas derivas identitárias sobre as subjetividades ainda em formação das crianças e dos adolescentes. Além disso, entender o conceito de sexualidade infantil na psicanálise, traçar uma linha histórica/social/política do conceito de infância e entender a formação dos grupos identitários, a partir dos estudos de Freud, Klein e autores contemporâneos. O conceito de infância – que é historicamente novo – surgiu a partir da invenção do letramento e da noção de vergonha. Apesar de novo, presenciase, precocemente, o seu desaparecimento: crianças e adolescentes, sujeitos ainda em desenvolvimento, estão sendo estimulados, por parte da sociedade atual, a tomarem decisões importantes e de caráter muitas vezes irreversível, a rigor, imprópria para esta fase da vida. Considera-se importante resistir aos discursos fundamentalistas onde não cabe a crítica no campo acadêmico sobre as consequências das políticas identitárias que ignoram as singularidades e os impactos nocivos sobre as subjetividades infanto-juvenis.