dc.description | Esta pesquisa, de metodologia qualitativa, teve como objetivo investigar os modos
com que os sujeitos se relacionam com o corpo e com a alimentação na
contemporaneidade, buscando compreender as respostas subjetivas que emergem
frente ao mal-estar na cultura. De modo mais específico, tratou-se de identificar os
discursos hegemônicos sobre o corpo e a alimentação, verificar os impactos desses
discursos na relação dos sujeitos com suas imagens e práticas alimentares e, por fim,
analisar o modo pelo qual se configuram as respostas dos sujeitos diante do mal-estar
contemporâneo. Para isso, foi realizado um trabalho de mapeamento nas redes
sociais, privilegiando conteúdos sobre o corpo e a alimentação, diante do qual foram
selecionados três participantes para participação em entrevistas individuais
semiestruturadas em torno das temáticas da pesquisa. Para analisar os discursos
obtidos, foi utilizada a metodologia da análise de discurso, em conjunto com os
preceitos da pesquisa psicanalítica, permitindo assim uma compreensão das
produções discursivas dos participantes acerca dos temas investigados. A partir das
análises realizadas, considerou-se que as práticas alimentares e corporais se inserem
hoje numa moralidade dietética pautada nas regras normativas da boa saúde. É neste
contexto que se infiltra o discurso da saúde, mediando a relação do sujeito com o
corpo e com o alimento. Através de estratégias de gerenciamento do corpo, tendo
como parâmetro a obrigação moral de empenhar-se para aniquilar qualquer ameaça
à integridade da saúde, instaura-se uma fantasia relacionada às limitações corpóreas,
na qual a certeza da finitude aparenta entrar em questão. Isto é, verifica-se que o
paradigma da saúde perfeita pode apontar para uma tentativa de distanciamento
psíquico do desamparo inerente à condição humana. Identificou-se, ainda, que a
aparência do corpo parece ser tomada como uma vitrine do sujeito, capaz de exibir
alguns dos maiores ideais da contemporaneidade, como a saúde, a juventude e a
beleza. Nesse sentido, a concepção de saúde parece estar aprisionada à aparência
de um corpo considerado belo. Diante desse cenário, enfatizamos a pertinência de
uma investigação contínua acerca dos discursos que permeiam o campo da
linguagem e que perpassam a experiência de sofrimento do sujeito, sem perder de
vista o caráter radicalmente singular do mal-estar do sujeito. | |