O presente artigo se propõe a discutir três questões caras ao debate sociológico em torno das chamadas “questões raciais” e, de algum modo, retomadas no contexto da implementação das políticas de cotas no Brasil, a saber: a relação entre raça e classe; a interface da raça com a cultura/etnia; e o status da raça como categoria social e conceito analítico. Esta discussão será feita à luz do debate que antecedeu e se intensificou por ocasião da introdução das primeiras políticas de cotas em universidades públicas. Primeiramente, faz-se uma incursão em torno do embate teórico relativo à interdependência das categorias “raça” e “classe” de modo a exemplificar a maneira através da qual elas se relacionam no contexto da experiência de ações afirmativas para negros. Em seguida, desenvolve-se uma reflexão crítica a respeito da interface teórica entre raça e cultura à luz das disputas relativas aos significados da identidade negra nesse contexto. Finalmente, analisam-se as discussões em torno dos significados raciais no contexto da implementação de políticas públicas afirmativas, com o objetivo de propor uma análise reflexiva a respeito da raça como conceito analítico.