dissertação
Conflitos argumentativos: água mineral, entre bem comum e mercadoria
Argumentative conflicts: mineral water between common good and commodity
Registro en:
CAMPOS, T. R. Conflitos argumentativos: água mineral, entre bem comum e mercadoria. 2020. 141 p. Dissertação (Mestrado em Administração Pública)-Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2020.
Autor
Campos, Thiago Ribeiro
Institución
Resumen
This dissertation is the result of a qualitative research carried out based on information
collected in documents published, in the last 20 years, regarding mineral waters in the
municipalities of Caxambu and Cambuquira. Mineral waters in Brazil have a legal nature of
ore, and the rules that regulate the subject do not recognized it as a water resource.
Consequently, the legal protection is milder compared to other environmental resources,
giving rise to various conflicts arising from the clash between the interest of exploitation and
the need for preservation, as occurs in the spa towns of Caxambu and Cambuquira. The right
to explore its mineral waters belongs to the Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais
(CODEMGE), which published, on 11/30/2017, a notice for the selection of a private partner
to explore the mineral water business of the units located in those municipalities. In this
context, we sought to investigate how the argumentative structures that conceive mineral
waters on one side as a common good and on the other as a commodity are constituted and
related to each other over the past 20 years. To achieve this objective, the conflictual context
of exploitation of mineral waters was made explicit. On the one hand, we analyzed the
republican ideals that gave rise to the concept of public interest, which served as a basis for
the perception of water as a common good, for collective use. In this sense, an attempt was
made to systematize and interpret the argumentative structure of public interest manifested by
civil society organizations that favor water as a common good. On the other hand, the notion
of private interest was analyzed as a basis for the marketing logic, which conceives mineral
waters as merchandise, subject to exploration and commercialization by a certain group. In
this sense, we sought to systematize and interpret the argumentative structure that stands in
favor of water as a commodity. Judicial decisions involving the exploration of mineral waters
were also analyzed, seeking to identify in these decisions the presence of argumentative
structures of water as a commodity or as a common good. The results achieved demonstrate
that in the discourse of civil society organizations, several elements are identified that
converge towards the conception of mineral water as a common good linked to the public
interest, including as an important element in the formation of the historical aspect, cultural
and self-identity of communities that is inserted. On the other hand, the discourse that brings
mineral water closer to private interest and to the notion of commodity is based on the
Brazilian legal regime that classifies it as a mineral resource, claiming that the ownership of
the respective mine manifest justifies its exploitation. It was also found that in the analyzed
judicial decisions, only the indirect presence of argumentative features of each of these two
structures was identified, without there being a direct analysis of the arguments presented.
Finally, a bill is proposed that recognizes mineral waters as a common good, and which is
intended to be submitted to the Federal Senate e-Citizenship Portal, through the Legislative
Idea tool, which allows citizens to send and support legislative ideas, as suggestions for
changing current legislation or creating new laws. Esta dissertação é resultado de uma pesquisa qualitativa realizada a partir de informações
coletadas em documentos publicados, nos últimos 20 anos, a respeito das águas minerais dos
municípios de Caxambu e Cambuquira. As águas minerais, no Brasil, possuem natureza
jurídica de minério, não sendo reconhecidas como recurso hídrico pelas normas que regulam
o assunto. Em consequência, recebem uma tutela jurídica menos protetiva em comparação a
outros recursos ambientais, dando ensejo a diversos conflitos decorrentes do embate entre o
interesse de exploração e a necessidade de preservação, como ocorre nas estâncias
hidrominerais de Caxambu e Cambuquira. O direito de exploração de suas águas minerais
pertence à Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (CODEMGE), que publicou, em
30/11/2017, edital para seleção de parceiro privado para exploração do negócio de águas
minerais extraídas nos referidos municípios. Nesse contexto, buscou-se investigar como se
constituem e como se relacionam, nos últimos 20 anos, as estruturas argumentativas que
concebem as águas minerais como bem comum, de um lado, e como mercadoria, de outro.
Para alcançar tal objetivo, explicitou-se o contexto conflituoso de exploração das águas
minerais. Por um lado, analisaram-se os ideais republicanos que deram origem à concepção de
interesse público, o qual serviu de base para a percepção da água como bem comum, de uso
coletivo. Nesse sentido, buscou-se sistematizar e interpretar a estrutura argumentativa do
interesse público manifestado pelas organizações da sociedade civil que se coloca a favor da
água como bem comum. Por outro lado, analisou-se a noção do interesse privado como
fundamento para a lógica mercadológica, que concebe as águas minerais como mercadoria,
passível de exploração e comercialização por determinado grupo. Nessa lógica, buscou-se
sistematizar e interpretar a estrutura argumentativa que se coloca a favor da água como
mercadoria. Analisaram-se, ainda, as decisões judiciais que envolvem a exploração das águas
minerais, buscando-se identificar nas referidas decisões a presença das estruturas
argumentativas da água como mercadoria ou como bem comum. Os resultados alcançados
demonstraram que no discurso das organizações da sociedade civil identificam-se diversos
elementos que convergem para a concepção da água mineral como bem comum atrelada ao
interesse público, compreendendo-a como importante elemento para a formação do aspecto
histórico, cultural e da própria identidade das comunidades em que está inserida. Por outro
lado, o discurso que aproxima a água mineral do interesse privado e da noção de mercadoria
tem sua base no regime jurídico brasileiro que a enquadra como recurso mineral, sustentandose
que a titularidade do respectivo manifesto de mina justifica a sua exploração. Constatou-se
ainda que nas decisões judiciais analisadas somente se identificou a presença indireta de
traços argumentativos de cada uma dessas duas estruturas, sem que houvesse a análise direta
dos argumentos apresentados. Por último, propõe-se a elaboração de um projeto de lei que
reconheça as águas minerais como bem comum, e que se pretende submeter ao Portal e-
Cidadania do Senado Federal, por meio da ferramenta Ideia Legislativa, que permite ao
cidadão enviar e apoiar ideias legislativas, como sugestões de alteração na legislação vigente
ou de criação de novas leis.