Publicada em edição única pela editora Artenova em 1974, A via crucis do corpo foi um dos últimos livros escrito por Clarice Lispector. Os contos curtos e não-lineares apresentam ao leitor uma linguagem clariceana mais crua e direta. Em cada personagem, o corpo é figurado por reviravoltas constantes. Entre os treze contos disponibilizados na obra, dois chamaram nossa atenção por apresentarem personagens marginalizados para a sociedade, principalmente na época em que o livro foi escrito: “Ele me bebeu” e “Praça Mauá”. No primeiro conto, conhecemos a história de Serjoca, Aurélia Nascimento e Affonso Carvalho, enquanto no segundo conto a amizade entre Luísa/Carla e Celsinho/Moleirão é abalada por um motivo bem específico. A par das narrativas selecionadas, o presente trabalho tem como objetivo estudar a decomposição da imagem delineada a partir dos personagens Aurélia Nascimento e Serjoca, inseridos no conto “Ele me bebeu” e Luísa/Carla e Celsinho/Moleirão, presentes no conto “Praça Mauá”. Procuraremos estabelecer também um estudo comparativo entre esses contos e a produção jornalística de Clarice Lispector dos anos 1960. Em relação ao aporte crítico-teórico, traremos contribuições de Arêas (2005), Gotlib (2013), Lacan (1998;2009), Moser (2013) dentre outros estudiosos.