Com esse trabalho nos propomos analisar a participação feminina na produção dos grafites na cidade do Cairo, Egito, durante a série de protestos entre 2011 e 2013 que se espalharam pelos países do Norte da África e Oriente Médio e que ficaram conhecidos como "Primavera Árabe". Nosso objetivo é avaliar a estratégia de organização dessas mulheres durante e após a revolução egípcia de 2011 de forma a sair de uma posição duplamente subalternizada, primeiro pelo recorte de gênero (com as interpretações masculinizadas dos códigos de conduta religiosa do Islã) e depois pelo recorte de classe, de uma sociedade inserida em processos de globalização transnacional (econômica e cultural) mediadas pelo Estado e que acentuam a concentração de renda nas mãos de elites locais e limita o exercício da plena cidadania à grande parcela social egípcia ao ignorar os direitos humanos básicos de trabalho, saúde, educação, moradia e dignidade. Tal pesquisa busca investigar as fontes (os grafites) aplicando uma metodologia de análise visual, contextualizando as fontes com a historicidade local e dentro da teoria dos estudos pós-colonial e de feminismo islâmico como ferramentas para compreender os processos políticos como uma modernização da tradição e identidade islâmica na região, impulsionado por processos de globalização econômica e de hibridismos culturais.