Este trabalho se propõe a analisar as newsletters autorais e o compartilhamento de textos confessionais e autobiográficos realizados neste meio. Com a popularização da internet, o espaço virtual passou a ser preenchido por relatos íntimos que mobilizaram internautas e desenvolveram relações em volta do formato. No ciberespaço, o eu encontrou um lugar para se externalizar, dando vazão às intimidades. Antecessores das newsletters, os blogs surgem, assim, calcados, em parte, na experiência do diarismo virtual e da criação de uma espécie de conteúdo particular que antes era visto em cartas, diários e confissões eclesiásticas. Após um período de grande sucesso, contudo, eles perderam público e caíram no esquecimento, cedendo terreno para outras plataformas. Estas, porém, não lograram preencher de imediato o vazio deixado pela ausência dos blogs, que comportavam relatos mais extensos e marcados por uma descrição mais detalhada, e por vezes performática, do eu. As newsletters, ou boletins autorais, vêm para renovar essa função, abrigando aqueles que não conseguiram em outras plataformas satisfazer o impulso da autoafirmação biográfica e buscavam um substrato para viabilizar uma forma específica de exposição pessoal. Com entrevistas a três autoras de newsletters, o presente estudo investiga as origens e as possibilidades do formato, em torno do qual já surgiram comunidades virtuais cuja ligação se fundamenta num desnudamento discursivo do eu, numa troca permanente de intimidades, reflexões e revelações.