Papers presented at events
"Com alívio" e "sem arrependimento": sentimentos de adolescentes de uma favela do Rio de Janeiro após a experiência de aborto induzido
Registro en:
ROSA, Wendell Ferrari Silveira; PERES, Simone Ouvinha; NASCIMENTO, Marcos Antonio Ferreira do. "Com alívio" e "sem arrependimento": sentimentos de adolescentes de uma favela do Rio de Janeiro após a experiência de aborto induzido. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS EM SAÚDE, 8., 2019, João Pessoa. Anais... João Pessoa: ABRASCO, 2019. 2 p.
978-85-85740-10-8
Autor
Rosa, Wendell Ferrari Silveira
Peres, Simone Ouvinha
Nascimento, Marcos Antonio Ferreira do
Resumen
O aborto induzido realizado em contexto clandestino e inseguro é considerado um importante e complexo problema de saúde pública no Brasil. Apesar do crescente aumento de pesquisas nas últimas décadas sobre o fenômeno, pouco se sabe como mulheres adolescentes narram seus sentimentos após a realização deste evento recente da sua trajetória sexual e reprodutiva. Focalizar as narrativas de dez mulheres adolescentes, entre 15 e 17 anos, sobre seus sentimentos em relação à experiência de aborto induzido clandestino, praticado entre 12 e 17 anos, moradoras de uma favela da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. O contato com as participantes foi feito através da técnica “bola de neve”, a partir de uma informante chave. O horário e o local das entrevistas foram escolhidos pelas entrevistadas e a pesquisa contou com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa CFCH/UFRJ. Para a coleta dos dados, foram realizadas entrevistas individuais em profundidade, a partir de um roteiro semiestruturado. A partir de uma perspectiva relacional de gênero e interseccional, esse trabalho apresenta as narrativas das entrevistadas sobre os seus sentimentos após a experiência de aborto induzido realizado em contexto clandestino. As entrevistadas tinham média de 16,3 anos no momento da entrevista e 14,9 anos no momento do aborto. A maioria engravidou de um parceiro denominado “namorado”. A média de idade dos parceiros foi de 25,5. Nenhuma adolescente relatou se arrepender do aborto. Cinco adolescentes relataram se sentirem “aliviadas”. Quatro relataram que não se arrependeram, mas disseram que a experiência foi um “trauma”, devido às precárias condições que o aborto foi realizado. Uma adolescente contou que não se arrependeu do aborto, mas citou que ficou deprimida após o procedimento pois o feto “era uma vida”; e continuou: “mas sei que fiz a coisa certa, não queria colocar alguém no mundo pra sofrer a longo prazo”. Os sentimentos mais evidenciados foram “alívio” e “sem arrependimento”. Os dados contrariam pesquisas sobre os sentimentos femininos após o abortamento, que focalizam o sentimento de culpa. Indaga-se se o aborto induzido pode ser visto de uma forma mais aceitável entre as adolescentes da favela pesquisada ou se a representação da prática do aborto como “inadmissível” pode também ter sofrido mudanças entre as mais jovens na atualidade.