Periodical
RADIS: Comunicação e Saúde, número 165, junho
Registration in:
RADIS: Comunicação e Saúde. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ENSP, n.165, jun. 2016. 36 p.
Author
Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca
Abstract
Nas últimas edições, Radis tem aprofundado a reflexão sobre como diferentes
grupos sociais podem e devem ser acolhidos e cuidados pelo SUS e pelas demais
políticas públicas. Desta vez, Adriano De Lavor mergulhou no universo de 50 mil
brasileiros que vivem em situação de rua. São mulheres, homens e crianças vagando
“sem a proteção física e simbólica de uma casa”, analisa o editor, invisíveis para as
políticas de Estado, sem saúde e direitos, frequentemente vítimas de violência por
parte da sociedade e de agentes públicos. Surpreende a sabedoria e o grau de organização que muitos deles demonstram na luta por cidadania e respeito. O repórter fotográfico Eduardo de Oliveira também foi a campo registrar
imagens, trabalhadas com arte pelo designer Felipe Plauska, que captassem a
áspera existência dessas pessoas, sob a tênue proteção de cobertor e papelão,
entocadas em frágeis ninhos ou expostas e vulneráveis nos centros urbanos. Uma
realidade que lembra a advertência do procurador público Humberto Jaques, em
entrevista à Radis(no 26) sobre o direito à saúde. “O trem da sociedade progride
quando a gente empurra o último vagão [...] Você mede o progresso da sociedade
pelo grupo vulnerável, pelo mais fraco.”Nesta edição, estão presentes as
vozes de leitores críticos que nos escrevem, de coletivos de comunicação popular, das
múltiplas fontes do Canal Saúde na TV aberta, das populações indígenas na rádio
Yandê na internet. Reverberam as vozes dos estudantes que ocupam escolas na luta por
mais qualidade na educação pública, dos que lutam contra a homofobia, dos que querem reparação socioambiental pelo crime da mineradora Samarco em Mariana, de pessoas com deficiência, idosos, mulheres,
negros e jovens na Conferência de Direitos Humanos. Ecoa a obra pioneira de Nise da
Silveira, que resgatou com arte a humanidade de seus “clientes” no manicômio carioca
do Engenho de Dentro. Registramos as reações de pesquisadores, organizações acadêmicas e movimentos
sociais e culturais contra o retrocesso representado pelas políticas e medidas anunciadas
pelo governo interino de Michel Temer para as áreas de saúde, ciência e tecnologia,
comunicação, cultura, direitos sociais e trabalhistas, combate à fome, desenvolvimento
agrário, gênero, igualdade racial e direitos humanos. Uma composição que se move
rapidamente na contramão do interesse popular e da Constituição de 1988.
Fechada esta edição, a divulgação de conversa indecorosa com o ex-diretor da
Transpetro, Sérgio Machado, provocou a queda do ministro do Planejamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR), e explicitou
um pacto para barrar a operação Lava Jato começando pelo afastamento da presidenta
Dilma Rousseff, vista como um obstáculo para o objetivo deles de reduzir a atuação
de procuradores, delegados e juízes contra a corrupção. Talvez só o distanciamento do
tempo permita uma análise completa dos acontecimentos em curso e saber se este
impeachment será ou não lembrado como um golpe pelos livros escolares. Mas parece
que a fila dos que embarcam em direção ao lixo da história só faz aumentar.