Thesis
A propaganda deles é boa, e é enganosa: vida, saúde e trabalho de famílias agricultoras do fumo no Sul do Brasil
Fecha
2013Registro en:
RIQUINHO, Deise Lisbôa. A propaganda deles é boa, e é enganosa: vida, saúde e trabalho de famílias agricultoras do fumo no Sul do Brasil. 2013. 219 f. Tese (Doutorado em Saúde Pública) - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2013.
Autor
Riquinho, Deise Lisbôa
Institución
Resumen
Este estudo aborda o cotidiano de trabalho das famílias envolvidas no cultivo do tabaco na perspectiva destes e de informantes-chave ligados aos setores da saúde, educação, agricultura, sociedade civil e indústria. O objetivo geral foi o de caracterizar ecompreender as condições de vida, trabalho e saúde das famílias que produzem tabaco na localidade rural de Rincão dos Maia, no município de Canguçu, RS. Trata-se de um estudo qualitativo do tipo etnográfico. A produção dos dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas e observação participante. Os sujeitos de pesquisa foram 39 agricultores e 24 informantes-chave, num total de 63 entrevistas. A análise do material produzido ocorreu pela categorização temática e a perspectiva ergológica de Yves Schwartz foi o principal referencial utilizado. Os resultados indicaram que para os agricultores do tabaco o significado de tal cultivo é permeado de ambiguidades. Dentre outras questões, destacam-se as expectativas dos trabalhadores em relação à obtenção de lucros com o cultivo, alimentadas pela indústria, que nem sempre se cumpriram. Além disto, ao longo do tempo observou-se redução da policultura e da agricultura de subsistência na localidade e também diminuíram os momentos de convivência do grupo e as reuniões sociais. O sistema integrado imposto pela indústria à maioria dos agricultores da localidade reforça relações de exploração e de cerceamento da liberdade de comercialização do produto e de diminuição da autonomia da força de trabalho. Muitas vezes, os agricultores (re)normalizam a atividade e a própria relação com o provedor dos insumos, neste caso a indústria, plantando além da margem do seguro e comercializando o excedente com atravessadores no intuito de manter a reprodução das famílias.
O processo de trabalho relaciona-se claramente com problemas de saúde humana e ambiental, principalmente durante a colheita do tabaco, com o relato de acidentes, doenças musculoesqueléticas, intoxicação por agrotóxicos e doença da folha verde do tabaco. Apesar disso, não foram identificadas ações específicas por parte do Estado, em particular, da área de vigilância em saúde. No setor agrário notou-se que as iniciativas de diversificação agrícola e oportunidades de crédito não atingem os agricultores do tabaco desta localidade. Em relação à sociedade civil organizada houve diferentes posicionamentos: de um lado o entendimento da vantagem do cultivo do tabaco pelos aspectos econômicos em detrimento da saúde do agricultor e, de outro, a convicção de que os benefícios econômicos seriam tanto maiores se houvesse mais investimento na agricultura familiar, policultura e produção para subsistência dasfamílias. Por sua vez os representantes da indústria do tabaco estão muito atentos aos movimentos do Estado e da sociedade, entendendo que há ventos que sopram a favor da redução do cultivo, tais como a Convenção Quadro. Conclui-se, que o que oprime esubordina os trabalhadores também os fragiliza. Numa relação de poder tão desigual, entre agricultor e indústria, é mister que o Estado, de maneira intersetorial e em parceria com a sociedade civil organizada, atue ao lados dos trabalhadores rurais, desenvolvendo políticas públicas e empoderando-os a partir de ações e práticas pautadas na participação da comunidade, no respeito ao saber construído pelos próprios agricultores através de diferentes trajetórias de vida e na possibilidade de um redirecionamento produtivo nesta localidade, voltado para uma agricultura sustentável visando a preservação da saúde do trabalhador e do ambiente.