Iniciativas para a redução do consumo de sódio no Brasil: avaliação e análise de impacto

Abstract

Introdução: Dietas inadequadas são importantes fatores de risco preveníveis para doenças crônicas não-transmissíveis (DCNTs), no mundo. Entre os nutrientes críticos associados às DCNTs, o consumo excessivo de sódio é o principal fator de risco para doenças cardiovasculares, mediadas pela hipertensão arterial. Diferentes fontes dietéticas contribuem para o consumo de sódio, portanto sua redução depende de múltiplas estratégias paralelas e complementares que podem ser avaliadas antes de sua implementação por meio de macro e microssimulações de cenários. Objetivos: Os objetivos deste estudo são desenvolver e aplicar metodologias de macro e microssimulação para estimar o impacto do consumo excessivo de sódio e das metas voluntárias de redução do sódio sobre a morbimortalidade da população e os custos da doença no Brasil. Métodos: Foram produzidos quatro manuscritos baseados em dados de inquéritos nacionais, estatísticas nacionais e sistemas de informação do Sistema Único de Saúde. O primeiro manuscrito avalia o impacto das metas voluntárias entre 2011-2017 nos teores de sódio de categorias prioritárias no Brasil. O segundo detalha o desenvolvimento e aplicação de uma metodologia de macrossimulação para estimar os custos da doença atribuíveis ao consumo de sódio. O terceiro artigo usa macrossimulações para estimar as mortes e custos atribuíveis ao excesso de sódio no Brasil. O último estima, por microssimulação, o impacto projetado em 20 anos das metas voluntárias de redução do sódio sobre a morbimortalidade e custos diretos e indiretos em saúde. Resultados: O consumo excessivo de sódio representa uma grande carga sobre a saúde da população brasileira, assim como para os gastos do SUS e perdas econômicas para a sociedade. Estimou-se que seriam atribuíveis ao excesso de sódio, em 2017, 47.017 mortes por todas doenças cardiovasculares associadas à hipertensão (equivalentes a 585 mil anos de vida perdidos), responsáveis por US$ 195 milhões em despesas ao SUS e US$ 800 milhões em perdas de produtividade por mortalidade precoce. As metas voluntárias de redução do sódio no Brasil resultaram na redução do conteúdo médio de sódio de 5% a 28% nos produtos e uma redução final de 0,25 g/dia no consumo diário de sal da população entre 2011 e 2017. Em 20 anos, a continuidade dessas metas voluntárias nacionais evitaria 112 mil casos e 2.524 mortes por doenças isquêmicas do corção e doenças cerebrovasculares, cujos custos diretos e indiretos de tratamento somariam US$ 292,5 milhões. Conclusões: Os resultados evidenciam os prejuízos à saúde da população e os elevados custos ao SUS e à sociedade causados pelo consumo excessivo de sódio e apoiam a priorização da redução do consumo de sódio na agenda de saúde. Além disso, considerando a multiplicidade das fontes dietéticas de sódio e nos impactos limitados das metas voluntárias sobre a morbimortalidade e os custos das doenças cardiovasculares, é necessário ampliar o impacto da reformulação de alimentos e fortalecer outras estratégias voltadas à redução das demais fontes de sódio. Nesse sentido, as modelagens de impacto de fatores dietéticos sobre DCNTs demonstram ser importantes ferramentas para subsidiar a formulação e implementação de políticas mais efetivas no Brasil e em outros países.