O processo transexualizador no Sistema Único de Saúde: um estudo de caso no serviço de referência em Pernambuco

Abstract

A transexualidade é um conjunto de modo e vivências de individuos que se identificam com os atributos sociais e sexuais que desviam do gênero designado ao nascer. O processo transexualizador é um programa que compõe a política de saúde brasileira e compreende um conjunto de estratégias de atenção à saúde, onde estão incluídos procedimentos de diferentes graus de complexidade para o processo de modificações corporais de indivíduos transexuais. O objetivo desta pesquisa foi analisar o atendimento do processo transexualizador em um serviço de referência com o propósito de compreender como esse processo, enquanto política pública, é executado na instituição. Trata-se de um estudo misto. Os dados quantitativos foram coletados através dos registros do serviço. Para os dados qualitativos foram realizadas entrevistas semiestruturadas em profundidade e realizada análise de conteúdo. Os dados coletados (N=180) indicam que parcela significativa é integrada por mulheres trans (66%). A grande maioria reside na região metropolitana do Recife (81%). Em relação à faixa etária, 65% dos usuários terem entre 18 e 30 anos. Já foram realizadas cinquenta e nove (59) cirurgias de trangenitalização em mulheres trans , dezesseis (16) implantes de próteses mamárias de silicone e dezessete (17) tireoplastia. Em homens trans, dezoito (18) realizaram mamoplastia masculinizadora e três (3) realizaram histerectomia. Os processos de identificação das pessoas entrevistadas revelaram-se conflituosos em diversos âmbitos ao longo do processo de se compreender como uma pessoa transexual; a busca pelos serviços de saúde a procura de intervenções, sejam hormonais ou cirúrgicas, estão relacionadas à busca pela humanização dos corpos. O serviço analisado é o único do Norte-Nordeste que oferece atendimento integral à pessoa trans e por isso a procura é alta e há um estrangulamento em atender às demandas e que mesmo com todas as limitações e dificuldades, o serviço propõe ser um ambiente de cuidado numa lógica despatologizante, centrado nas necessidades dos sujeitos e é uma ferramenta de saúde que consegue dar respostas as necessidades de saúde da população transexual. Contudo, as análises também apontam que existem diversas dificuldades a serem enfrentadas, que vão desde a transfobia institucional, a falta de interesse de profissionais de saúde de compor a equipe e até a falta de um efetivo apoio institucional.