Dissertation
Entre feudos e cogestão: paradoxos da autonomia em uma experiência de humanização no âmbito hospitalar
Fecha
2013Registro en:
SILVA, Atila Mendes da. Entre feudos e cogestão: paradoxos da autonomia em uma experiência de humanização no âmbito hospitalar. 2013. 144 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2013.
Autor
Silva, Atila Mendes da
Institución
Resumen
O estudo teve como objetivo analisar iniciativas de humanização da assistência, com relação à
problemática da autonomia dos sujeitos implicados na produção do cuidado em saúde em um
hospital materno-infantil no município do Rio de Janeiro-RJ. Trata-se de uma pesquisa
qualitativa, estruturada a partir de um estudo de caso e apoiada na abordagem teórica da
Psicossociologia Francesa e na contribuição de autores do campo do planejamento e gestão
em saúde. As estratégias metodológicas utilizadas foram: entrevistas semiestruturadas com
profissionais de saúde e gestores responsáveis pela implementação das iniciativas de
humanização e análise dos documentos disponibilizados por tais iniciativas. A implementação
da humanização no hospital estudado se deu através de algumas iniciativas voltadas
prioritariamente para os usuários, sendo ressaltado como resultado de seus trabalhos: a
transformação da percepção dos familiares a respeito da criança internada (―ressignificação‖)
e a participação ativa dos usuários no processo de tratamento (―empoderamento‖). Entretanto,
esse processo de humanização privilegiou uma experiência, ainda em curso, de
implementação dos arranjos organizacionais de Colegiados Gestores (CG) e Unidades de
Produção (UP). Tais arranjos foram valorizados na iniciativa, principalmente, como um meio
de amplificar o comprometimento dos trabalhadores com o hospital. Na perspectiva dos
sujeitos responsáveis pela estruturação destes dispositivos, a inclusão dos trabalhadores nos
espaços de gestão dos colegiados ampliaria sua capacidade decisória, ao mesmo tempo em
que os mobilizaria a se comprometerem mais com o cuidado prestado. Em alguns momentos,
os entrevistados parecem ter uma visão utópica dos colegiados, os idealizando como um
espaço que, quando completamente instalado, levaria a uma mudança de cultura no hospital e
a um apaziguamento das tensões existentes, o que possibilitaria incluir os usuários neste
arranjo e lidar com temáticas mais árduas. Por outro lado, os sujeitos de pesquisa mencionam
a força das categorias profissionais no hospital como uma das principais resistências ao
processo de implementação dos Colegiados Gestores e Unidades de Produção, apontando para
o entendimento de que o novo modo de organização do hospital envolve lidar com os
interesses das categorias profissionais e dos antigos departamentos do hospital, caracterizados
pelos sujeitos de pesquisa em alguns momentos como ―feudos‖. Por fim, dialogando o
material das entrevistas com nossa base teórica, ressaltamos a importância de reconhecer os
conflitos decorrentes das divergências entre os interesses dos trabalhadores e usuários, o que
possibilitaria criar estratégias para lidar com tais conflitos de forma produtiva, sem mitigá-los
de maneira autoritária. Além disso, discutimos o potencial de que tais arranjos possam
funcionar como um espaço intermediário, permitindo o diálogo entre o singular e coletivo e
possibilitando a construção de um projeto compartilhado entre os trabalhadores para a
produção de valores de uso para o hospital.