Thesis
A invenção da primeira infância e a constituição contemporânea das práticas de governamentalidade
Fecha
2016Registro en:
SILVA, Lenir Nascimento da. A invenção da primeira infância e a constituição contemporânea das práticas de governamentalidade. 2016. 198 f. Tese (Doutorado em Políticas Públicas e Formação Humana) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Centro de Educação e Humanidades. Faculdade de Educação, Rio de Janeiro, 2016.
Autor
Silva, Lenir
Institución
Resumen
Em que momento histórico, períodos de vida distintos e suas denominações – bebê,
pré-escolar, infante, criança pequena – foram homogeneizados em uma única alcunha? Como
a primeira infância (PI) foi inventada? Essa tese advém da experiência médica e tem o
propósito de estudar as práticas e dispositivos que, a partir do conceito de PI, estabelecem
parâmetros de constituição contemporânea da governamentalidade biopolítica. A investigação
parte de um duplo incômodo: a percepção da idealização da noção de “primeira infância” e a
verificação dos seus usos atuais, na condição de paradigma. Pela via dos que se referem à
história na perspectiva do acontecimento, realizo o mapeamento e a análise genealógica de
documentos que demonstram a relação entre a concepção de PI e as práticas de governo. Sob
o manto de inspiração tanto das diversas vozes que ecoam do texto quanto de uma estética
possível, o trabalho é escrito como uma peça teatral. Assim, delineio cinco Atos
problematizadores de certos cenários que atravessam a instituição das existências das
crianças: biopolítico, fantasmagórico, bélico, múltiplo e de uma ilusão de futuro. Utilizo-me
de dois analisadores: a própria experiência e o processo de elaboração das bases da política
pública para a PI no Brasil. Dessa forma, coloco em evidência os seguintes elementos: a
complexidade dos exercícios relacionais e os alicerces dos regimes de saber sobre a vida, que
se conectam tanto com as estratégias de poder quanto com os sistemas de subjetivação. Nesse
caminho, constato: a primazia biológica do cérebro implicada na imposição das práticas
eficientes de aperfeiçoamento individual; a edificação das prioridades de intervenções das
relações de poder, instigada pelo grau de penúria singular e coletiva, ou pela vulnerabilidade
que expõe aos riscos do não desenvolvimento, a criança, a sociedade e o Estado; a
consecutiva utilização das instituições de educação infantil como dispositivos de segurança do
desenvolvimento e da manutenção dos aparelhos produtivos; o número crescente de seres
humanos constituídos incapazes de alcançar o padrão de normalidade definido pelas
necessidades de manutenção do estilo de vida liberal, condenados a representar o papel do
excedente social desde cedo. Tais fatos advêm de uma conjuntura de expectativas que
produzem a imagem da PI como símbolo do espaço de ingerências: social, biológico,
econômico e político – concepção que tenta garantir um futuro mais que perfeito para o nosso
modo de viver. Longe de objetivar soluções para todas as perguntas advindas dos anos de
pesquisa, a argumentação abre as portas para um novo questionamento: será que não estamos
fazendo da primeira infância o cenário de uma ilusão de futuro?