“Só agora eu falo alto”: reflexões acerca de “raça”, linguagem e gênero na formação docente em EJA

Abstract

Sabe-se que a escola é um espaço de resistência e opressão. Sendo assim, se a escola pública é o lugar destinado à educação das camadas populares é também o local de empoderamento dos sujeitos do ensino e da aprendizagem, e da leitura crítica do seu poder institucional em uma sociedade desigual como a nossa. O estudo de cunho etnográfico apresentado nesta tese é o resultado de uma tentativa da sua autora – sob suas identidades de mulher, negra, professora/pesquisadora, a partir de uma experiência pessoal como estudante de doutorado - de interferir no sistema educativo, buscando compreender de que forma uma educação escolar hierarquicamente racializada afeta os processos de alteridade entre professores e alunos, em especial, da Educação de Jovens e adultos de uma escola situada em Cajazeiras, periferia de Salvador e cidade mais negra, fora de África. Com esse objetivo, em 2007, formou-se um grupo de estudo contando com a participação de três professoras de Português língua materna, na unidade escolar onde a pesquisadora também leciona para apresentar e instalar uma proposta de formação docente “em serviço” atenta às necessidades de um olhar mais sensível ao reconhecimento das diferenças sejam elas de “raça”, gênero e linguagem, o que levaria os sujeitos do ensino e da aprendizagem a não só discutirem formas de desigualdade, preconceitos e discriminação como também a apontarem saídas no sentido do enfrentamento das suas condições de existência nesse contexto, direcionadas pela utopia de uma sociedade menos desigual. As interdições estruturais e conjunturais que se interpuseram nessa agência docente são aqui descritas e analisadas com a ajuda de contribuições teóricas em diversas áreas do conhecimento, entre elas, a Linguística Aplicada, a Teoria Racial Crítica, os Estudos Culturais, a Sociologia, a Sociolinguística, o Feminismo Negro, entre outras que se fizeram pertinentes.

It is known that the school is a space for resistance and oppression. Thus, if the public school is the place for the education of classes is also the site of empowerment of the subjects of teaching and learning, and critical reading of institutional power in an unequal society like ours. The ethnographic study presented in this thesis is the result of an attempt by its author - under their own identities as woman, black, teacher / researcher, from personal experience as a doctoral student - to interfere in the educational system, seeking to understand forming a hierarchically racialized schooling affects the processes of alterity between teachers and students, especially of Youth and Adults in a school located in Cajazeiras outskirts of Salvador and blackest city outside of Africa. With this objective in 2007, formed a study group with the participation of three teachers of Portuguese as mother tongue at schools where she also teaches the researcher to present and to install a proposal of teacher training "in service" attentive to the needs of a more sensitive the recognition of differences whether they be race, gender and language, which would bring the subject of teaching and learning not only discuss the forms of inequality, prejudice and discrimination as well as pointing towards the exit face of their conditions of existence In this context, directed by the utopia of a more egalitarian society. Prohibitions that are structural and cyclical brought this teaching agency are described here and analyzed with the help of theoretical contributions in several areas of knowledge, among them, Applied Linguistics, Critical Race Theory, Cultural Studies, Sociology, Sociolinguistics, Black Feminism, among other things have become relevant