Tese
Educar não é 'preciso' : ato educativo e eficácia simbólica no contexto da educação escolar
Autor
Port, Ilvo Fernando
Resumen
O clássico conceito de “eficácia simbólica” de Claude Lèvi-Strauss auxilia na interpretação das formulações de Sigmund Freud e Jacques Lacan acerca do processo humanizante de simbolização, em que, a partir da função fundamental do ancestral, o gozo é limitado pelas leis da linguagem. Importantes pesquisas psicanalíticas constatam alterações na cultura que implicam num progressivo esvaziamento da função do ancestral e, consequentemente, na fragilização da eficácia simbólica por ela sustentada, promovendo a prevalência de certos traços psicopatológicos, enquanto efeitos de condições específicas da cultura contemporânea. Nesta tese, procuro investigar se iniciativas educacionais, desenvolvidas no âmbito das escolas, podem promover efeitos de eficácia simbólica em seus educandos e educadores. Para tanto, apresento recortes de iniciativas educacionais que são por mim analisadas à luz da teoria psicanalítica. Enquanto metodologia de pesquisa, me inspirei na construção do caso, método de redação da pesquisa psicanalítica em que o psicanalista, assumidamente, não retrata a realidade objetiva de seu analisante, mas, sim, constrói hipóteses metapsicológicas, sujeitas ao seu próprio inconsciente e a sua própria transferência - da mesma forma, assumo os relatos de iniciativas educacionais e as hipóteses interpretativas enquanto construções minhas. Inspirei-me, ainda, no conceito de ato, mais especificamente no ato analítico, formulado por Jacques Lacan, no sentido de que, mais do que proporcionar caminhos pré-determinados, o ato pressupõe uma certa transgressão e criação, relativas ao estilo de cada psicanalista, ao percurso de cada psicanálise e a uma aposta em seus efeitos. Já o pesquisador, inspirado no ato analítico, cria e transgride de acordo com seu estilo e com as especificidades de sua pesquisa – ele aposta, também, em seus efeitos de forma que, renunciando à mítica “captura” do objeto a ser pesquisado, estes somente poderão ser percebidos num a posteriori. Concluo que, no âmbito das escolas, mais do que a transmissão de conhecimentos objetivos, atos educativos sustentados por educadores que aceitam a falta inerente a qualquer saber, promovem espaços de fala, de uma certa historicidade e, assim, implicam em referências à ancestralidade produzindo, potencialmente, efeitos subjetivantes de eficácia simbólica, entendida, esta, como a eficácia da assunção da perda intrínseca à condição humana. Le concept classique d’ «efficacité symbolique» de Claude Lèvi-Strauss aide à l’interprétation des formulations de Sigmund Freud et de Jacques Lacan sur le processus humanisant de symbolisation dans lequel, à partir de la fonction fondamentale de l’ancêtre, la jouissance est limitée par les lois du langage. D’importantes recherches psychanalytiques ont constaté des altérations dans la culture, desquelles résultent une perte progressive de la fonction de l’ancêtre et, par conséquent, la fragilisation de l’efficacité symbolique qu’elle soutient, provoquant la prévalence de certains traits psychopathologiques en tant qu’effets de conditions spécifiques de la culture contemporaine. Dans cette thèse, je cherche à savoir si les initiatives éducationnelles, développées au sein des écoles, peuvent provoquer des effets d’efficacité symbolique parmi leurs éduqués et leurs éducateurs. Pour cela, je présente des découpages d’initiatives éducationnelles que j’ai analysés sous l’angle de la théorie psychanalytique. Comme méthodologie de recherche, je me suis inspiré de la construction du cas, méthode de rédaction de recherche psychanalytique dans laquelle le psychanalyste, volontairement, ne reproduit pas la réalité objective de son analysant, mais élabore des hypothèses métapsychologiques, dépendantes de son propre inconscient et de son propre transfert - de la même manière, j’assume les récits des initiatives éducationnelles et les hypothèses interprétatives en tant que formulations personnelles. Je me suis inspiré aussi du concept d’acte, plus spécifiquement de l’acte analytique formulé par Jacques Lacan, dans le sens où, bien plus que d’offrir des voies déjà tracées, l’acte implique une certaine transgression et création relatives au style de chaque psychanalyste, au parcours de chaque psychanalyse et à un pari sur ses effets. Quant au chercheur, inspiré par l’acte analytique, il créé et transgresse conformément à son style et aux spécificités de sa recherche – il parie lui aussi sur ces effets de manière que, en renonçant à la mythique « capture » de l’objet à être recherché, ceux-ci ne pourront être perçus que dans un a posteriori. Je conclus donc que, au sein des écoles, bien plus que la transmission de connaissances objectives, des actes éducatifs, soutenus par des éducateurs qui admettent le manque inhérent à tout savoir, offrent des espaces de parole d’une certaine historicité et ainsi, renvoient aux références à l’ancêtre, provoquant potentiellement des effets subjectivants d’efficacité symbolique, cette dernière étant comprise comme l’efficacité de l’acceptation de la perte inhérente à la condition humaine