Tese
História natural de Benthana cairensis (Isopoda: Oniscidea)
Autor
Sokolowicz, Carolina Coelho
Resumen
A subordem Oniscidea abriga os isópodos terrestres, os quais apresentam uma grande riqueza de espécies em diferentes ambientes com características completamente diversas, desde a zona litorânea até ambientes desérticos. No Brasil há uma diversidade de espécies ainda pouco estudada, sendo que a família Philosciidae representa uma grande parte da fauna de isópodos da América do Sul. O presente estudo tem como objetivos descrever uma nova espécie no gênero Benthana para o estado do Rio Grande do Sul, descrever seus estágios de manca e juvenil, assim como caracterizar sua estrutura populacional com respeito aos aspectos reprodutivos e crescimento. Benthana cairensis foi descrita como uma nova espécie de Philosciidae e tem como caracteres diagnósticos a presença de 17 estetascos na antênula, exópodo do pleópodo 1 do macho alongado apresentando um lobo na margem lateral interna. Essa espécie é semelhante a três outras do gênero em relação a presença do lobo, no entanto diferencia-se de todas elas devido às diferenças no número de omatídeos, inserção dos ramos do urópodo e dimorfismo sexual nos pereiópodos dos machos. A fase imatura e indiferenciada sexualmente apresenta três estágios, chamados de mancas. O estágio de Manca I é caracterizado pela simplicidade de suas estruturas e pela sua rápida duração, de aproximadamente 4 horas; apresenta 6 pares de pereiópodos, esses ainda glabros e o aparelho bucal fracamente desenvolvido ainda sem a presença dos dentes pectinados na maxilula, característicos de Benthana. O estágio seguinte, de Manca II, já apresenta o aparelho bucal mais desenvolvido com os dentes pectinados da maxilula e pereiópodos já com o padrão de setas semelhante ao adulto, inclusive a seta “hand-like” do carpo 1, uma autapomorfia do gênero. O último estágio de manca (Manca III) caracteriza-se pela presença do sétimo par de pereiópodos presente dobrado ventralmente sob o corpo do animal. Os estágios de juvenis caracterizam-se pela diferenciação sexual, mas ainda são imaturos sexualmente. Os três primeiros estágios foram descritos para os machos com destaque para o desenvolvimento da protusão do exópodo do pleópodo 1, outra autapomorfia do gênero, o qual só começa a ficar evidente no segundo estágio (JUII) e somente apresenta-se completamente desenvolvido quando o animal atinge aproximadamente 1.0 mm de largura de cefalotórax (LC). O dimorfismo sexual presente nos quatro primeiros pares de pereiópodos dos machos começa a aparecer após os três primeiros estágios de juvenil e está completamente evidente em machos de aproximadamente 1.2 mm de LC. A população de Benthana cairensis do Sítio Cairé caracteriza-se por apresentar uma reprodução contínua durante o ano. As fêmeas investem menos em uma única prole, no entanto são capazes de se reproduzir mais de uma vez ao longo de sua vida. A proporção sexual operacional da população é de 1:1, mostrando que há um equilíbrio no que se refere ao número de machos e fêmeas aptos para reprodução. Os machos vivem menos que as fêmeas e são menores. As fêmeas possuem o corpo maior, o que aumenta a superfície para abrigar a prole o que foi demonstrado pela correlação positiva do tamanho da fêmea com o número de ovos. As características de desenvolvimento de B. cairensis são semelhantes a outras espécies de Philosciidae, apresentando três estágios de mancas. Suas características populacionais, no que se referem a estação reprodutiva e investimento reprodutivo, são semelhantes a outras espécies subtropicais e, como esperado, diferentes de espécies de isópodos que vivem em regiões temperadas. Terrestrial isopods are included in the suborder Oniscidea which shows a great species richness living at different places showing diverse environmental conditions, occurring from the littoral zone through desert regions. In Brazil there is a diversity that is still poorly studied in which the family Philosciidae represents a great part of South America’s woodlice fauna. The present study aims to describe a new species of the genus Benthana to the state of Rio Grande do Sul, to describe its manca and juvenile stages as well as to characterize its population structure concerning reproductive aspects and growth. Benthana cairensis was described as a new species of Philosciidae and presents the following diagnostic characters: 17 aesthetascs on the antennula and male pleopod 1 exopod elongated with a lobe on the inner lateral margin. This species resembles other three species of the genus concerning the presence of pleopod lobe; however it is differentiated by the number of omatidia, insertion of uropod endopod and exopod and sexual dimorphism on male’s pereiopods. The immature and undifferentiated phase has three stages, called mancas. The Manca I is marked by the simplicity of its appendages and by its queek duration, of about 4 hours; it presents 6 pairs of pereiopods still glabrous and mouth parts weekly developed still without the presence of the pectinate teeth of maxillula, characteristic of Benthana. The next stage, Manca II, already shows the mouth parts a little more complete, presenting the pectinate teeth of maxillula and the pereiopods showing the setae pattern of the adult, including the hand-like seta on carpus 1, an autapomorphy of the genus. The last manca stage (Manca III) is characterized by the presence of the 7th pair of pereiopods folded ventrally on the pereion. The juvenile stages are sexually differentiated, but still immature. The first three stages were described for males, enphatizing the development of dentiform protusion of pleopod exopod 1, another autapomorphy of the genus which begins to be evident only at the second stage (JUII) and it is completely formed when the animal reaches 1.0 mm of cephalothorax width (CW). Sexual dimorphism at the first four male pereiopods beggins to develop after the three juvenile stages and it is completely formed on males of approximatly 1.2 mm of CW. The population of Benthana cairensis at Sítio Cairé is characterized by showing a continnuous reproduction during the year. Females invest less in a single brood, but are able to reproduce more than once in its lifetime. The operational sex ratio of population is 1:1, which shows that there is an equillibrium concerning the number of males and females that are able to reproduce. Males live less than females and are smaller. Females have a bigger body which increases the surface where the brood develops; this was demonstrated by the positive correlation of female body size with the offspring number. The developmental characteristics of B. cairensis are similar to those of the other species of Philosciidae presenting three manca stages. Its population features concerning reproductive season and reproductive effort resembles those of other subtropical species and as expected, is different from species that occur at temperate regions.