Grandes empresas, equidade de gênero e maternidade: um estudo a partir da percepção dos gestores de diversidade e inclusão

Abstract

Conforme as mulheres entraram e se consolidaram no mercado de trabalho, a maternidade passou a ganhar um novo significado e novos desafios, em especial na conciliação entre a maternidade e o emprego. Se não bastassem as barreiras como a disparidade salarial entre homens e mulheres, a discriminação ocupacional e o teto de vidro que perpetua a desigualdade de números de mulheres na liderança, a maternidade é vista como mais uma barreira à mulher no mercado de trabalho. Entender esse escopo da maternidade e emprego passa pela história das interações entre trabalho e gênero, a carga remunerada, ou não, de trabalho da mulher ao longo tempo e o atual cenário de inequidade entre homens e mulheres. Buscar soluções para as dificuldades das mulheres em manterem seus empregos e terem a liberdade para exercer a maternidade passa por entender o papel das empresas e o que elas já estão fazendo para facilitar essa jornada para mães e pais. Com o objetivo de aumentar o debate no tema, assim como auxiliar as empresas a desenvolverem e aprimorarem suas próprias práticas de conciliação da maternidade e emprego, essa pesquisa foi desenvolvida para responder à pergunta: Como as empresas reconhecidas pelo seu trabalho em equidade de gênero endereçam os desafios da maternidade? As respostas foram obtidas a partir de uma pesquisa qualitativa baseada em entrevistas com profundidade realizadas com gestoras de diversidade e inclusão de 6 empresas ganhadoras do prêmio “Mulheres na Liderança 2019” promovido pelo Valor Econômico, Instituto Ipsos e a ONG WILL. Utilizando a revisão de literatura para entender a questão chegamos na discussão de elementos visíveis como as práticas de conciliação trabalho família e a implementação de estratégias de sustentabilidade, passando também por elementos não visíveis como trabalho e gênero e o papel da mulher no mercado de trabalho, chegando na discussão estrutural de regimes de gênero e nas discussões mais profundas do conceito da maternidade e do papel da mulher como vetor de desenvolvimento sustentável. Com esse arcabouço foram realizadas as perguntas e coletadas as percepções das gestoras de diversidade e inclusão, gerando achados como a importância do pai no processo de maternidade e do regime de gênero, que ainda dita o papel da mulher e seu espaço no mercado de trabalho, além de relatos sobre a busca por equilíbrio da nova geração e de práticas amplas para promoção da capacidade da mulher em desempenhar sua carreira e sua maternidade sem limitações. Foram destacadas as estratégias de promoção dos grupos de afinidade e dos comitês executivos, de apoio da alta liderança e de troca de melhores práticas entre empresas. As políticas e práticas relatadas incluem licenças, flexibilidade, estruturas de apoio, retenção após a licença maternidade, programas de saúde e uma base sólida de políticas voltadas à equidade de gênero. A pesquisa convida às empresas a refletir e buscar melhores práticas para apoiar mulheres e mães em um momento tão complexo como a maternidade principalmente em tempos de pandemia e crise econômica.

As women entered and joined the labor market, motherhood began to gain new meaning and new challenges, especially in the conciliation between motherhood and employment. If barriers such as the gender pay gap, occupational discrimination and the glass ceiling that perpetuates the inequality of women in leadership were not enough, motherhood is seen as yet another barrier to women in the labor market. Understanding this scope of motherhood and employment goes through the history of the interactions between work and gender, the paid and unpaid burden of women's work over time and the current scenario of inequity between men and women. To pursue solutions to women's difficulties in maintaining their jobs and being free to exercise motherhood we need to understand the role of companies and what they are already doing to facilitate this journey for mothers and fathers. In order to increase the debate on the subject, as well as to help companies develop and improve their own practices of conciliation of motherhood and employment, this research was developed to answer the question: How do companies recognized for their work in gender equity address the challenges of motherhood? The answers were obtained from a qualitative research based on in-depth interviews with diversity managers and inclusion of 6 companies that won the "Women in Leadership 2019" award promoted by Valor Econômico, Instituto Ipsos and the NGO WILL. Using the literature review to understand the issue, led to the discussion of visible elements such as family work conciliation practices, the implementation of sustainability strategies, passing through nonvisible elements such as work and gender and the role of women in the labor market, reaching the structural discussion of gender regimes and the deeper discussions of the concept of motherhood and the role of women as a lever of sustainable development. With this framework, the perceptions of the managers of diversity and inclusion were collected, generating findings such as the importance of the father in the process of motherhood and the gender regime, which still dictates the role of women and their space in the labor market, as well as reports on the search for balance of the new generation and large scope practices to promote the ability of women to perform their careers and their motherhood without limitations. The strategies for promoting affinity groups and executive committees, leadership support and exchanging best practices between companies, were highlighted. Reported policies and practices include leave policies, flexibility, care structures, retention after maternity leave, health programs, and a solid foundation of gender equity policies. This research invites companies to reflect and seek best practices to support women and mothers at a time as complex as motherhood in times of pandemic and economic crisis.