| dc.description.abstract | A diáspora do Santo Daime segue sua jornada. Quando fui afetado por ela - os afetos de que fala Favret-Saada - fazia um ano que cursava Ciências Sociais na Universidade Federal de São Paulo. Então para além dos recursos acadêmicos que instrumentam a realização das observações aqui apresentadas, há também uma jornada mística em curso dada minha relação com o Daime. Tais afetos animam a descrição a seguir: um diálogo sobre o uso do Daime e os sentidos que este uso recebe na atualidade, em ambiente urbano.
O uso de substâncias psicoativas acompanha as transformações de grupos humanos ao longo de milênios no tecido espaço/tempo: desde as savanas e nas estepes até o ártico e na floresta úmida tropical, estima-se 15 milênios de relações inter-reinos - aqui restrinjo à apenas animália, fungi e plantae - que são bon à penser um tipo de ecopolítica multiespécies. Relações que também estão presentes no uso da bebida originária da floresta Amazônica que, a partir dos anos 30 do século XX extrapola as práticas indígenas e começa a ocorrer também entre outras coletividades, e tem, nos anos 90 do mesmo século um novo movimento de expansão, desta vez para áreas urbanas adensadas do Brasil seguido do fenômeno de internacionalização de seu uso. Esta expansão borra as fronteiras entre o mundo ameríndio e o mundo que o irmão europeu define por civilizado, com isto, novos significados são incorporados: religiosidade, manifestações artísticas, e mais recentemente do autoconhecimento, neoxamanismo, terapêutico e recreativo. Os resultados desse encontro, o caráter ritual e o efeito psicoativo da bebida despertam estranhamento de natureza etnocêntrica aos “de fora”, sendo passível de estudo na esfera das Ciências Sociais.
Então, para além de fora da varanda, pretendo um tipo de alteridade radical do pensamento de povos não ocidentais que permita atribuir às referidas plantas amazônicas a qualidade de espécies companheiras na produção de uma etnografia para além da humanidade e, desta forma, tendo a observação participante como principal metodologia, compreender o uso do Santo Daime no meio urbano e os sentidos que este uso adquire na contemporaneidade. Este é o caminho a ser percorrido ao longo desse projeto. | |
