dc.description.abstract | Esta dissertação procura refletir sobre a corresponsabilidade da crítica jornalística
na formulação do campo da dança. Partiu-se da constatação de que a crítica
jornalística atualmente praticada no Brasil alimenta o senso comum a respeito da
dança, na medida em que os jornais não se oferecem como ambientes propícios à
produção de conhecimento especializado e vinculam cada vez mais os seus
cadernos culturais ao mercado de entretenimento. Propõe-se, então, refletir sobre
o papel desta crítica atual, associando o seu discurso à produção de doxa (ou
rumor teórico) na dinâmica de formulação do campo artístico da dança. Assim, é
possível reconhecer a importância do senso comum como prática teorizante sobre
a dança, como propõe a filósofa francesa Anne Cauquelin. A autora salienta que a
arte não existe isoladamente, imune à interferência do senso comum, e que por
isso é preciso levar em conta vários tipos de discursos, e não apenas o
acadêmico, ao se tratar de teorias da arte. O pressuposto deste entendimento é o
da coevolução, segundo o qual as coisas formulam-se e modificam-se simultânea
e mutuamente, a partir de processos relacionais ininterruptos – conforme
formulado por Richard Dawkins no campo da biologia contemporânea e adotado
por Fabiana Dultra Britto nos seus estudos sobre historiografia da dança. As ideias
de tais autores ajudam a esclarecer que se a crítica jornalística é corresponsável
pela formulação do campo da dança, ao ser praticada por um especialista ela teria
mais chances de contribuir para a construção de um senso comum mais
qualificado e, deste modo, colaborar para a elaboração de um campo artístico
mais complexo. Neste sentido, esta pesquisa propõe que a crítica continue sendo
veiculada no jornal – um meio de comunicação de massa que apresenta grande
poder de interferência no senso comum e, por consequência, no campo artístico
acompanhado –, mas que seja escrita por especialistas: profissionais que tenham
conhecimento aprofundado de dança e das condições de produção do jornal, e
que possam criar estratégias adaptativas para a sua permanência neste ambiente.
A proposta é que se continue produzindo texto jornalístico, mas com o
conhecimento do profissional especializado em dança, elaborando um senso
comum que possa abrir portas para a reflexão. Dessa forma colabora-se, portanto,
para a construção de um campo artístico mais complexo, com mais chances de
continuar existindo ao longo do tempo. | |