Tesis
A intuição do instante poético de Gaston Bachelard em A paixão segundo G.H., de Clarice Lispector
Fecha
2018-07-31Registro en:
LIMA, Cicero Jucier Costa. A intuição do instante poético de Gaston Bachelard em A paixão segundo G.H., de Clarice Lispector. 2018. 98 f. Dissertação (Mestrado em Literatura)—Universidade de Brasília, Brasília, 2018.
Autor
Lima, Cicero Jucier Costa
Institución
Resumen
Em A paixão segundo G.H., a linguagem envolve a questão da existência, objeto da narrativa, como problema de expressão e comunicação. A insuficiência da palavra para expressar o real intuído resulta na voz do silêncio como recurso discursivo que se exprime poeticamente nas entrelinhas. Chamar a atenção do leitor para a ideia de instante poético como evento revelador de um novo ser é o objetivo de nossa dissertação. Gaston Bachelard faz menção ao interesse do método fenomenológico pela imaginação poética: trata-se de trazer à luz a tomada de consciência do sujeito maravilhado pelas imagens poéticas. Clarice Lispector afirma que A paixão segundo G.H. é um livro como outro qualquer mas que ficaria contente se fosse lido apenas por pessoas de alma já formada. Se, para Bachelard, "toda tomada de consciência é um crescimento de consciência", para Clarice, "a aproximação, do que quer que seja", implica a posse do que ela considera uma "alegria difícil – mas uma alegria". Ambos, pode-se dizer, detêm o mesmo poder imagético: estão diante do que se revela por meio da linguagem. E o que se revela é o significado de felicidade inerente à poesia, que transcende o sentido dado ao termo pelo senso comum. O poeta, em seus devaneios, consegue captar no instante poético novas maneiras de recriar o mundo, de perceber nos objetos, nos detalhes aparentemente insignificantes, motivos para ressignificar a existência. É o que faz Bachelard com sua imaginação criadora. É o que faz Clarice com sua obsessão pelo indizível. Tempo e espaço adquirem nova dimensão, amoldam-se à "realidade" do ser. A imaginação tenta um futuro, a hora de viver cobra o momento-já. Enquanto Bachelard devaneia conferindo leveza ao mundo, Clarice devaneia atribuindo-lhe um peso, anunciando o trágico da condição humana. Seguindo caminhos diversos, o que os dois têm em comum é a intuição do instante poético, que muda o curso dos acontecimentos e propicia a cada momento o sentido de eternidade.