Tesis
Dos velhos aos novos cartolas : uma interpretação do poder e das suas resistências nos clubes face ao impacto das relações futebol-empresa
Fecha
2019-08-27Registro en:
AZEVEDO, Aldo Antonio de. Dos velhos aos novos cartolas: uma interpretação do poder e das suas resistências nos clubes face ao impacto das relações futebol-empresa. 1999. 344 f. Tese (Doutorado em Sociologia)—Universidade de Brasília, Brasília, 1999.
Autor
Azevedo, Aldo Antonio de
Institución
Resumen
Neste estudo, de modo geral, abordo a questão do poder e das suas resistências no futebol
brasileiro. De modo específico, analiso os efeitos das relações futebol-empresa sobre a estrutura de
poder dos clubes, tendo como ponto de partida a gênese dessa estrutura.
Na construção deste processo de gênese ou genealogia, dentre outros elementos
formadores, descrevo os aspectos simbólicos e ideológicos da cultura do futebol no Brasil, o exercício
do poder, o perfil dos dirigentes, o papel do Estado, a legislação e a crise financeira e administrativa
dos clubes. Aponto também o que considero um novo momento da instrumentalização econômica do
futebol, ou seja, a globalização dos seus negócios, especialmente as relações entre as empresas e
os clubes.
Esses cenários demarcam momentos da história social e política do futebol brasileiro, em que
assume relevância uma Velha estrutura" de poder que vem se mantendo nos clubes, representada
por um personagem chamado pejorativamente de “cartola". Com o surgimento das relações futebol e empresa
na década de 80 e sua intensificação na década de 90, por meio de estratégias de
marketing aplicadas ao esporte, como os patrocínios e as parcerias, a empresa passou a ser um novo
ator nos negócios e a interessar-se pela gestão do futebol nos clubes, gerando resistências locais.
No plano teórico, a partir da preocupação em interpretar e criticar o modelo tradicional da
administração do futebol nos clubes brasileiros, face às relações futebol-empresa, recorro às
contribuições de Marx, Weber e Bourdieu, no sentido de complementaridade conceituai. Estabeleço
relações entre as noções de ideologia, ação social e habitus, considerando o futebol como um espaço
de poder e de produção de resistências nos clubes. Na perspectiva empírica, analiso a prática das relações futebol-empresa e coloco em questão “se” e “como" os patrocínios e as parcerias provocam mudanças e “quais" mudanças se verificam nos clubes. As evidências extraídas de entrevistas feitas em 1997 com empresários, dirigentes de clubes, jogadores de futebol, jornalistas e outros informantes-chaves, tendo como referências três grandes clubes da capital paulista (o São Paulo Futebol Clube, o Sport Club Corinthians Paulista e a Sociedade Esportiva Palmeiras) e seu relacionamento com empresas, refletiram apenas uma
modernização parcial na estrutura de poder num desses clubes. Que forças e interesses teriam
impedido sua transformação radicai para uma gestão moderna e empresarial?
Os resultados da pesquisa demonstram ainda tensões, conflitos, acomodações e adaptações
nessa estrutura, colocando frente a frente um modelo “tradicional", “paternalista” e “amador", típico
dos clubes, e um modelo “moderno”, “empresarial" e 'profissional”, próprio das empresas capitalistas.
Enfim, em razão das resistências da “velha estrutura”, concluo que as relações futebol-empresa
têm-se orientado mais para o mercado do que para a gestão dos clubes. Desse modo, as
tendências apontam não apenas uma reprodução ou permanência dos “velhos cartolas" no poder,
mas a produção de um “novo cartola” do futebol: a empresa capitalista.