Tesis
Dos ventos favoráveis aos contrários : atores estatais, percepções e práticas da participação na Assistência Social (2015 a 2018)
Fecha
2022-04-14Registro en:
DIREITO, Denise do Carmo. Dos ventos favoráveis aos contrários: atores estatais, percepções e práticas da participação na Assistência Social (2015 a 2018). 2021. 211 f., il. Tese (Doutorado em Ciência Política) — Universidade de Brasília, Brasília, 2021.
Autor
Direito, Denise do Carmo
Institución
Resumen
A Constituição de 1988 é um marco para o modelo democrático-participativo brasileiro,
pautado na consolidação e/ou surgimento dos mecanismos informais e formais de participação,
como as instituições participativas (IPs). Desde então, o campo de estudos sobre participação
no país vem avançando na compreensão de seus limites e potencialidades e da relação entre
Estado e sociedade. Não obstante, o enquadramento que os atores estatais dão a esses processos
participativos foi subteorizado e subanalisado tanto pela literatura de movimentos sociais e
participação como pela relacionada à administração pública e à ação pública. O tema ganha
relevância se considerarmos o impeachment da presidente Dilma Rousseff como um momento
de inflexão em que governos de centro-esquerda, que impulsionam esse modelo, especialmente,
para as políticas sociais, são substituídos por um contexto social e político marcado pela
presença de atores e projetos menos favoráveis, ou até mesmo contrários, aos processos
participativos. Diante destas lacunas, esta tese pergunta: quais os enquadramentos dos atores
estatais sobre a participação social e como isso informa as suas práticas? Para realizar este
estudo, dois conjuntos de literatura foram mobilizados. O primeiro mais voltado à compreensão
do Estado e sua relação com a sociedade, considerando o papel da burocracia nesse processo.
O segundo conjunto busca o diálogo entre a produção científica que analisou os atores estatais
a partir da perspectiva dos movimentos sociais e da participação e a produção mais ligada a
compreender os processos relacionais entre atores estatais e não-estatais a partir de categorias
próprias da Administração Pública. Para responder à questão, foi realizado estudo de caso,
focado na área de assistência social do nível federal. O principal instrumento de pesquisa foi a
realização, a partir de roteiro semiestruturado, de 44 entrevistas com profissionais da Secretaria
Nacional de Assistência Social (SNAS), que atuaram nos anos 2015 a 2018. A pesquisa
identifica e compara a posição de diferentes perfis de burocratas em relação a sua maior ou
menor percepção positiva acerca da participação, considerando os profissionais que
trabalharam i) na gestão de Dilma Rousseff; ii) na gestão de Michel Temer e iii) aqueles que
permaneceram durante todo o período. Alguns outros atributos foram, também, utilizados para
comparações, tais como: sexo, tipo de vínculo com a Administração, formação e escolaridade,
experiência anterior como conselheiro, em governos subnacionais e/ou em organizações não
governamentais e afins. Os resultados mostram que há dependência de trajetória, a partir da
forma como o campo se consolidou. A grande maioria dos entrevistados avalia que a execução
da política não seria possível sem a existência dos mecanismos de participação existentes tanto
no nível federal como nos subnacionais. No entanto, a partir da reflexão sobre casos concretos,
surgem discrepâncias. Principalmente, sobre até onde vai a atuação dos atores nãogovernamentais nas decisões sobre a política. A mudança institucional, ocasionada pelo
impeachment, é fator que marca a transição de uma percepção mais pró-participação para uma
postura em que a participação social deve estar fora do Estado. Não devendo ser confundida
com a gestão, que é uma atribuição dos atores estatais. Essa mudança de enquadramento, do
que seria o papel dos atores não-estatais, acaba por acarretar alterações na prática e na forma
de condução de determinados assuntos nos mecanismos participativos.