Tese
Efeitos do fogo nos padrões de rebrotamento em plantas lenhosas, em campo sujo
Fecha
2021-09-27Registro en:
MEDEIROS, Marcelo Brilhante de. Efeitos do fogo nos padrões de rebrotamento em plantas lenhosas, em campo sujo. 2002. 120 f., il. Tese (Doutorado em Ecologia)—Universidade de Brasília, Brasília, 2002.
Autor
Medeiros, Marcelo Brilhante de
Institución
Resumen
O rebrotamento a partir de estruturas subterrâneas é uma característica comum a várias espécies lenhosas do cerrado, constituindo uma adaptação à ocorrência de queimadas. Este estudo teve como objetivos avaliar os efeitos do comportamento e
do regime de fogo sobre a capacidade de rebrotamento de espécies lenhosas, em uma área de campo sujo submetida a queimadas anuais prescritas. A área de estudo, com cerca de 1 ha, localiza-se na Reserva Ecológica do IBGE, Brasília-DF e
encontrava-se protegida do fogo por 23 anos. Foram identificados e inventariados em altura e diâmetro todos os indivíduos com diâmetro igual ou superior a 2,0 cm, a 30 cm do solo, em uma área de 2500 m,2 no centro da área de 1 ha. A área foi submetida a queimadas prescritas, na estação seca (agosto), em 1998,1999 e 2000. O comportamento do fogo em cada queimada foi avaliado considerando os parâmetros de quantidade, qualidade e umidade do combustível, intensidade do fogo, calor liberado, velocidade da frente de fogo e eficiência de combustão. Os indivíduos foram novamente inventariados após cada queimada. O tipo de rebrotamento foi avaliado e as rebrotas a partir de estruturas subterrâneas foram marcadas e mensuradas em altura, comprimento e diâmetro, após cada queimada prescrita. Foram também avaliados o tipo de rebrota por indivíduo e por espécie e calculados o número de caules destruídos e o índice de entouceiramento. As diferenças entre as queimadas para as taxas de mortalidade e estrutura da vegetação foram avaliadas através de teste de porcentagens. Foram realizados cortes anatômicos para os tecidos subterrâneos de algumas espécies, com o objetivo de avaliar a distribuição de amido e definir as estruturas de armazenamento desta substância. Foram inventariados 636 indivíduos distribuídos em 36 espécies. As taxas de mortalidade observadas variaram entre 21,9% e 7,5%, sendo superiores aos dados de literatura para o Cerrado. A mortalidade afetou os indivíduos de menor porte, entre 1,0 e 2,0 m de altura e entre 2,0 e 3,0 cm de diâmetro. As rebrotas aéreas e basais foram os
tipos predominantes, com valores superiores a 80% dos indivíduos. Considerando os dados de “top kill” e de mortalidade de indivíduos, o número de caules destruídos variou entre 53,10%, após a primeira queimada, até 77,80%, após a terceira queimada. Estes dados podem ser conseqüência dos danos sucessivos das queimadas e/ou depleção de substâncias de reserva nos órgãos subterrâneos] Foram avaliadas e mensuradas um total de 1307 rebrotas que surgiram após cada queimada. O principal impacto das queimadas foi a redução no número de rebrotas com a continuidade das queimadas, sendo o número inicial de 684 e o número final de 248. O porte das rebrotas, incluindo os dados de altura, comprimento e diâmetro, praticamente não foi afetado pelas queimadas sucessivas. Foram observadas taxas elevadas de mortalidade de rebrotas, após a segunda e terceira queimadas, com valores de 34,8% e 37,8%, respectivamente. É provável que o intervalo entre queimadas freqüentes seja insuficiente para a regeneração de grande parte dos indivíduos através de rebrotas. As taxas de mortalidade variaram entre as espécies, sugerindo a existência de grupos de espécies sensíveis e espécies tolerantes ao fogo. Em geral, as espécies apresentaram tipos de rebrotamento mistos, com rebrotas aéreas, basais e subterrâneas. Isto pode significar que o tipo de rebrota está relacionado com o porte dos indivíduos e não é específica para cada espécie. A redução no número de rebrotas com a continuidade das queimadas também variou entre as espécies, evidenciando diferenças na capacidade de rebrotamento. Em
relação às estruturas de armazenamento de amido nos tecidos subterrâneos, as espécies Davilla elliptica e Acosmium dasycarpum apresentaram diferenças em relação às outras espécies. Nestas duas espécies, o amido se concentrou nos raios
do parênquima do xilema, padrão característico de espécies com capacidade elevada de rebrotamento. Porém, é provável que o regime atual de queimadas seja insuficiente para a recuperação das reservas de amido subterrâneas, tomando as espécies mais vulneráveis às queimadas.