Tesis
A constituição do self em estudantes autistas : uma perspectiva dialógica sobre as relações eu-outro na escola
Fecha
2020-03-30Registro en:
PACHECO, Raquel Pereira. A constituição do self em estudantes autistas : uma perspectiva dialógica sobre as relações eu-outro na escola. 2019. 133 f, il. Dissertação (Mestrado em Educação)—Universidade de Brasília, Brasília, 2019.
Autor
Pacheco, Raquel Pereira
Institución
Resumen
Este trabalho teve como principal objetivo investigar como as relações estabelecidas na escola
afetam a constituição do self dos sujeitos autistas. A partir disso foi possível descrever processos
de escolarização no local de pesquisa de campo com foco em práticas inclusivas; investigar
significações dos educadores sobre a subjetividade dos seus estudantes autistas e suas interações
com seus colegas e com a comunidade escolar; e analisar como ocorre a dinâmica de
posicionamentos de cada um dos sujeitos diante às práticas escolares. Fizemos um estudo de caso
múltiplo com três crianças autistas de 7 a 14 anos matriculadas em uma escola da rede pública. No
total, tivemos 11 participantes, dois professores, um coordenador, um monitor, 5 crianças autistas,
além de mais duas crianças não autistas. Durante o período de 6 meses, foram feitas entrevistas
com os adultos, observações naturalísticas das situações escolares (como sala de aula e recreio) e
observação direta durante uma dinâmica com as crianças participantes. À luz das teorias de uma
perspectiva dialógico-cultural, foi possível analisar nossas descobertas com base em um framework
de I-positions, posições do eu, para cada sujeito participante. A partir da convergência de cada um
dos posicionamentos possíveis de todos os sujeitos, chegamos a três eixos de relacionamento:
Brincar, Ajudar e Cuidar, que permeiam também a tríade de significado Inclusivo v. Especial v.
Regular. O eixo Brincar foca principalmente nas relações lúdicas e horizontais entre dois sujeitos; o
eixo Ajudar foca nas relações baseadas em suporte e auxílio objetivo e direto, como atividades
pedagógicas; e o eixo Cuidar foca nas relações afetivas e de carinho. O eixo Brincar é populado
principalmente por relações criança-criança, sendo desfavorecido pelo papel dos educadores dentro
da escola. O eixo Ajudar é observado nas relações com todos os perfis de sujeitos, sendo o que
apresenta maior diversidade de posicionamentos; nesse eixo, observamos que a relação mais
comum é um educador (monitor ou professor) ou um colega não autista que dá auxílio e suporte para
uma criança autista. O eixo cuidar é estabelecido também em todos os sujeitos, mas toma formas
diferentes de acordo com seu perfil e diferença de idade. Quando essa relação ocorre entre um
educador e uma criança, ela se manifesta como um cuidado quase que maternal, enquanto ocorre
entre duas crianças, ela se manifesta com preocupação e atenção ao outro. Após análise de cada
um dos eixos e as relações que os compunham, foi possível estabelecer uma série de proposições
para concluir este estudo de caso: 1) a inclusão, enquanto fenômeno cultural, é ao mesmo tempo
individual e coletiva, pois é necessário atenção para as necessidades e diferenças individuais mas
também é necessário uma mudança de estrutura e atitude da comunidade ao redor desse individuo
dado como diferente. 2) A palavra inclusão tem significados distintos para cada um dos sujeitos, mas
perpassa os conceitos de igualdade, normalidade e diferença. Não há consenso sobre como tratar
essa diferença, alguns optando por valorizá-la, pois todos são diferentes; e outros optando por
ignorá-las, pois todos são normais. 3) A cultura escolar não favorece as relações do Brincar entre
duas crianças quando uma delas é autista, impactando no desenvolvimento sociais destes
envolvidos. Enquanto as crianças autistas não se conectarem com seus pares neurotípicos,
estaremos perdendo também possibilidades de desenvolvimento dentro de uma relação lúdica. 4)
Compreender as posições externas do eu não são suficientes para analisar a sensação de
pertencimento na cultura escolar, mas nos ajuda a entender melhor como a estrutura da escola (não
só física, mas de práticas, burocracias e relacionamentos) impacta no papel em que educadores,
crianças autistas e crianças não autistas estabelecem dentro da comunidade escolar. A partir dessas
quatro proposições, concluímos que a cultura escolar canaliza I-positions, principalmente pela
criação coletiva de significados envolvendo os alunos chamados de especiais, incluídos ou regulares.